Fontes

A maioria das informações vêem com a devida validação abaixo da publicação. Algumas não foram possíveis de indicar a fonte, mas demos à informação o valor e a importância que mereceu e esperamos poder validá-la com posteriores pesquisas.

10/07/2015

Tejipió/Tejipio-Recife

As terras que viriam a ser o Recife e sua região metropolitana, tinham povoados dispersos em vários núcleos: do porto, de vilas e de engenhos que formavam núcleos de população pois contavam cerca de 100 a 200 moradores cada um. Entre esses núcleos podemos citar o engenho Tejipió/Tejipió-Recife, antes Jaboatão dos Guararapes,  fundado por Antônio de Andrade Caminha, no século XVI.
Localização do Bairro de Tejipio-Recife
O engenho Tejipió não possuía igreja nem orago (patrono, orago ou padroeiro é um santo ou anjo a quem se dedicada uma localidade, povoado, capela ou igreja). A moenda da fábrica era movida a animais, suas terras ficavam localizadas na margem esquerda do Rio Tejipió (Rio dos Cedros ou Rio dos Afogados), freguesia da Várzea, sob a jurisdição de Olinda-Capitania de Pernambuco. Todo o açúcar fabricado no engenho era enviado para o Recife acondicionado em caixas de madeira, em pequenos barcos pelo Rio Tejipió, que na época era navegável. Com o passar do tempo, essas caixas foram substituídas por sacos de algodão.
Entre as pessoas de ofício processadas durante a Primeira Visitação do Santo Ofício às partes do Brasil (1593-1595), estava Sebastião Pires Abrigueiro (de Abrideiro?) que era carreiro no engenho Tejipió.
Em 1609 o engenho pertencia a Antônio de Andrade da Cunha, filho e herdeiro de Antônio de Andrade Caminha.
O engenho foi citado nos seguintes mapas coloniais: PRÆFECTURÆ PARANAMBUCÆ PARS BOREALIS, una cum PRÆFECTURA de ITÂMARACÂ; PE-C (IAHGP-Vingboons, 1640) #40 CAPITANIA DE PHARNAMBOCQVE, plotado como engenho, 'TisԐpio Ԑ.', na m.d. do 'Rº. TisԐpio'; IT (IAHGP-Vingboons, 1640) #43 CAPITANIA DE I. TAMARICA, plotado como engenho, 'Ԑ TisԐpio', na m.d. do 'Rº. TisԐpio'.
Luta contra os holandeses.
O próximo proprietário encontrado foi Antônio Fernandes Pessoa “o Mingau”, (senhor do engenho Jiquiá (São Timóteo, Novo, Santo Antônio, Mingau)/Mangueira-Recife) que durante a invasão holandesa abandonou suas propriedades e  arrendou e depois comprou o engenho Sibiró/Ipojuca, no qual faleceu.
Em 1637 o engenho se encontrava de fogo morto e completamente arruinado, só restando em suas terras um grande partido de cana. Mas, em 1640 os holandeses venderam as terras do engenho como uma grande fazenda ao líder da Insurreição Pernambucana o Mestre de Campo João Fernandes Vieira e, por isso, o local passou a ser um dos centros de conspirações contra os invasores. Em suas terras Fernandes Vieira construiu uma bela e espaçosa casa de vivenda, para a sua habitação.
Deflagrada a luta dos pernambucanos contra os holandeses, as terras do Tejipió serviram de acampamento para uma tropa vinda da Bahia, sob o comando dos Mestres de Campo André Vidal de Negreiros e Martin Afonso Moreno. Essa tropa tinha se juntado ao exército independente pernambucano, na povoação do Cabo de Santo Agostinho. Foi do engenho, inclusive, que partiram muitos soldados para a batalha das Tabocas em Vitória de Santo Antão.
Fernandes Vieira.

A essa propriedade se refere João Fernandes Vieira no seu testamento celebrado em 1674 na sua fazenda de Maranguape, dizendo que ficava junto e ‘adiante do engenho São Francisco da Várzea, de André Vidal de Negreiros, as terras de Tejipió, que vão para Nossa Senhora da Luz, com a extensão de meia légua quadrada, que comprara a Sebastião Bezerra’.
Segundo a Relação dos Engenhos moentes da Capitania de Pernambuco, Itamaracá e Paraíba (1655) o engenho Tijipio estava de fogo vivo, em 1655, e pagava 1,5% de pensão sobre todo o açúcar que feito antes de ser dizimado, e pertencia a Francisco Berenguer de Andrada (II), cunhado de João Fernandes Vieira, último proprietário encontrado.
Igreja N. Sr. do Rosário
Em meados do século XVIII, já não mais existia o casarão do engenho, e em seu lugar foi construída uma capela sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário. De acordo com uma placa fixada na soleira da porta principal, a capela situava-se a 21,45m acima do nível médio do mar. Esse templo deu sepultura, em seu cemitério privativo, aos membros da igreja e aos filhos (até a idade de sete anos), de João Fernandes Vieira, estendendo o benefício às pessoas pobres.
Em 1819, mediante um aterro, o governador de Pernambuco, Luís do Rego Barreto, construiu uma estrada para Tejipió. Isso veio facilitar a comunicação do povoado com a cidade do Recife. A primeira estrada de rodagem, porém, que ia de Afogados até Areias, só foi construída em 1836.
Em 1863, Antônio Frederico de Castro Alves (1847-1871) quando veio para o Recife estudar Direito, morou no bairro do Barro, caminho de Tejipió, com a artista portuguesa Eugênia Câmara, considerada a melhor atriz do Império, e que era dez anos mais velha que ele. Eugênia, que chegara ao Brasil com Furtado Coelho, foi o grande amor de Castro Alves e influência decisiva de sua vida e por ele foi homenageada em versos, no Teatro Santa Isabel.
No início do século XX, o bairro de Tejipió era um distrito de Jaboatão dos Guararaapes até que no ano de 1928 foi anexado ao Recife, por ordem do Governador Estácio Coimbra. Nesse período, o local era muito movimentado, tendo um mercado público, construído pela prefeitura de Jaboatão cujo prefeito na época era Nobre de Lacerda. Este mercado foi posteriormente destruído para que os ônibus elétricos pudessem fazer a volta. Tejipió também possuía uma imprensa bastante movimentada com vários jornais locais como "O Echo".
Hoje o bairro de Tejipió integra a 5ª Região Político-Administrativa (RPA 5) e faz limites com os bairros Coqueiral, Sancho, Curado, Jardim São Paulo, Barro e com o município de Jaboatão dos Guararapes, possuí uma área territorial de 104,3 ha, uma população residente de 8.486 habitantes (censo de 2.000) e uma densidade demográfica de 81,39 hab./ha.

Tejipio/Recie

Fontes:
CAVALCANTI, Carlos Bezerra. O Recife e seus bairros. Recife: Câmara Municipal do Recife, 1998.
FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife: estátuas e bustos, igrejas e prédios, lápides, placas e inscrições históricas do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.
GUERRA, Flávio. Velhas igrejas e subúrbios históricos. Recife: Fundação Guararapes, 1970.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tejipi%C3%B3
MELLO, Evaldo Cabral de. O Bagaço de Cana. Edt. Penguin & Companhia das Letras.  1ª edição. São Paulo, 2012.Pág. 57, 58
PEREIRA DA COSTA, F. A. Anais Pernambucanos. 1795-1817. 2ª Edição. FUNDARPE. Gov. de Pernambuco. Recife, 1983. Vol. 2:130,  595, 602
Arredores do Recife. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1981.
PEREIRA, Levy. "TaijĩbĩpiôTeiibipio (engenho de bois)". In: BiblioAtlas - Biblioteca de Referências do Atlas Digital da América Lusa. Disponível em: http://lhs.unb.br/biblioatlas/Taij%C4%A9b%C4%A9pi%C3%B4Teiibipio_(engenho_de_bois). Data de acesso: 7 de julho de 2015.
Primeira Visitação do Santo Ofício às partes do Brasil; Denunciações e Confissões de Pernambuco 1593-1595. Prefácio de José Antônio Gonsalves de Mello. Recife, FUNDARPE. Pág 15. Diretoria de Assuntos Culturais 1984. 509+158 p. Il (Coleção pernambucana – 2ª fases. 14)

Proprietários encontrados:

1598 - Antônio de Andrade Caminha – Nascido no Conselho do Bem Viver/Bispado do Porto. Filho da governança do Porto/PT. Em 1598 residia em Olinda.
Fontes
Primeira Visitação do Santo Ofício às partes do Brasil; Denunciações e Confissões de Pernambuco 1593-1595. Prefácio de José Antônio Gonsalves de Mello. Recife, FUNDARPE. Pág 15. Diretoria de Assuntos Culturais 1984. 509+158 p. Il (Coleção pernambucana – 2ª fases. 14)
MELLO, Evaldo Cabral de. O Bagaço de Cana. Edt. Penguin & Companhia das Letras.  1ª edição. São Paulo, 2012.Pág. 57, 58

1609 - Antônio de Andrade da Cunha – Filho e herdeiro de Antônio de Andrade Caminha.
Fontes:
MELLO, Evaldo Cabral de. O Bagaço de Cana. Edt. Penguin & Companhia das Letras.  1ª edição. São Paulo, 2012.Pág. 57, 58

1630 - Antônio Fernandes Pessoa “o Mingau” – Natural de Pernambuco. Faleceu em torno de 1633, de acordo com o formal de partilha de seu filho Pedro de Lyra Pessoa, passado em 15.09.1698 pelo Juiz de Órfãos de Serinhaém, Diogo de Guimarães de Azevedo, tendo como escrivão Antônio Fernandes Bittencourt de Mello. Filho de Pedro Afonso Duro (português e Fidalgo da Casa Real, senhor do engenho da Madalena/Recife) e de D Madalena Gonsalves, que ainda vivia em 1643 e residia em Olinda, em uma casa própria próxima à matriz de São Pedro Mártir, de acordo com uma escritura de compra de umas terras situadas na Várzea, feita por Antônio Fernandes Pessoa.  Padroeiro da capela do Senhor Bom Jesus dos Passos da Graça.
Senhor do engenho Jiquiá (São Timóteo, Novo, Santo Antônio, Mingau)/Mangueira-Recife; Tejipió/Tejipió-Recife; Sibiró/Ipojuca;
Casamento 01: D. Maria de Aguiar, que segundo Borges da Fonseca já era falecida antes de 1647, como se vê no inventário que foi feito no ano seguinte pelo Juiz de Órfãos o Sr. Francisco Berenguer de Andrada, cujo escrivão foi Manoel de Pinho Soares. Filha de Gaspar de Aguiar e de Maria de Lima. Neta paterna de Thomé de Castro e de Maria Nova de Lyra, irmã de Gonçalo Novo de Lyra (Procurador Fiscal do Santo Ofício em 1600)
Filhos:
01- Conrado – Padre Franciscano. Religioso da Ordem de São Francisco. Já era Professo quando foi feito o inventário de sua mãe, porque dele não se faz menção;
02- Manoel de Aguiar – De acordo com o inventário de sua mãe era viúvo, porem não foi declarado o nome de sua esposa. (c. geração desconhecida);
03- Gaspar de Lyra – Assassinado em terras do engenho Sibiró/Serinhaem. Solteiro. (c.g.);
04- Antônio... – Em 1648 tinha apenas 08 anos de idade;
05- Pedro de Lyra Pessoa – Em 1648 tinha apenas 05 anos de idade. Casado em Portugal. Em 03.03.1657 se encontrava em Pernambuco, cobrando a sua legítima, para tanto apresentou uma procuração de sua esposa D. Luisa do Amaral, residente em Tomar/PT. Em 01.11.1705, ainda era vivo, como se vê no recibo que passou ao pé do seu formal de partilhas aos herdeiros do Cap. Antônio Borges Uchoa. (c. geração desconhecida);
06- Barbara de Lyra – Falecida em 1661, com inventário feito em 12.06 do dito ano. C.c. Miguel Ferreira. (c.g.);
07- D. Angela de Lyra Pessoa – Com testamento feito em 10.02.1657/Várzea. Falecida em 1658, pois nesse ano o Juiz de Órfãso, o Licenciado Antônio Pereira, escrivão Francisco Correia Pinto, fez o inventário dos bens que ficaram por seu falecimento. Primeira esposa do Tenente Thomé Soares de Brito. (c.g.);
08- D. Anna de Lyra Pessoa – Em 1648 tinha 12 anos de idade. C.c. Luiz da Silva, em 1648, que recebeu como dote de casamento de seu pai o engenho Jiquiá, com a obrigação de pagar as legítimas aos seus cunhados, de acordo com a escritura do engenho São Paulo do Sibiró/Serinhaem, na nota do Tabelião Sebastião de Guimarães, em 03.02.1653. Viúva, pouco tempo depois, D. Anna c.c. Francisco de Faria Uchoa, filho de Marcos André (senhor do eng. da Torre) e de D. Maria de Mendonsa Uchoa. Em 03.03.1657 D Anna e Francisco Uchoa venderam o engenho ao Cap. Antônio Borges Uchoa. (c.g.)
Fontes:
BORGES DA FONSECA, Antônio José Victoriano. Nobiliarquia Pernambucana. Anais 1925 Vol 47 (1) pág. 150, 151, 152
PEREIRA DA COSTA, F. A. Anais Pernambucanos. 1795-1817. 2ª Edição. FUNDARPE. Gov. de Pernambuco. Recife, 1983. Vol. 1 pág: 587; Vol. 2 pág: 130-133
MELLO, Evaldo Cabral de. O Bagaço de Cana. Edt. Penguin & Companhia das Letras.  1ª edição. São Paulo, 2012.Pág. 57, 58
PEREIRA DA COSTA, F. A. Anais Pernambucanos. 1795-1817. 2ª Edição. FUNDARPE. Gov. de Pernambuco. Recife, 1983. Vol. 2:130, 602

1640 - João Fernandes Vieira – Nasceu em 29/06/1596-Funchal/Ilha da Madeira/PT e faleceu em 1679. Filho do fidalgo Francisco de Ornelas Muniz com Antônia Mendes. Seu pai era bisneto de Tristão Vaz, o primeiro donatário de Machico. Sua mãe era bisneta de Pedro Vieira, morgado da Ribeira de Machico; entre os seus bisavôs se encontra António Fernandes, sesmeiro nas Covas do Faial, no norte da ilha da Madeira. Em 1606, com 10 anos de idade, Fernandes Vieira imigrou para a Capitania de Pernambuco, pois como não era o filho primogênito - herdeiro de todo o legado dos pais, se viu obrigado a emigrar para o “Além-Mar”, para adquirir fortuna, como muitos jovens portugueses da época.
Assim que chegou a Pernambuco trocou o seu nome de Francisco de Ornelas Moniz Júnior, para João Fernandes Vieira, um disfarce muito usado pela corrente emigratória para o Brasil, pois queriam esconder sua origem nobre, para poderem trabalhar escondidos em serviços braçais, uma desonra para a época. Seu primeiro trabalho foi como ajudante de mascate, em troca de comida e morada; depois foi auxiliar do mercador do comerciante Afonso Rodrigues Serrão, que ao falecer o deixou como único herdeiro do seu negócio e de algumas casas na Vila de Olinda.
Em 1630, com a invasão holandesa João Fernandes Vieira se alistou como voluntário de guerra. Em 1634, participou da resistência luso-brasileira no Forte de São Jorge.
Após 1635, Fernando Vieira tornou-se muito amigo e depois sócio do Conselheiro Político da Companhia das Índias Ocidentais, Jacob Stachouwer, de quem depois foi feitor-mor de seus engenhos: Ilhetas (Nossa Senhora de França, ou Nossa Senhora de Guadalupe)/Serinhaém, Meio/Recife, Santana/Jaboatão dos Guararapes. Nota: Em seu testamento Fernandes Vieira declarou sobre sua aproximação com Stachouwer: “Declaro que no tempo dos holandeses por remir minha vexação e viver mais seguro entre eles, tive apertada amizade com Jacob Estacour, homem principal da nação flamenga, com diferença nos costumes, e com ele fiz negócios de conformidade e por conta de ambos (...)”.
Nessa época Fernandes Vieira era descrito como um homem de aspecto melancólico, testa batida, feições pontudas, olhos grandes, mas amortecidos, e de poucas falas, exceto quando se ocupava de si, pois desconhecia a virtude da modéstia. Ativo, ambicioso e inteligente, durante a trégua estabelecida entre Portugal e a Holanda, estabeleceu ligações estreitas com os holandeses, o que lhe proporcionou ascensão econômica e social.
Com a partida de Stachouwer e de seu sócio de Nicolaes de Rideer, Vieira passou a lucrar com a administração dos engenhos e dos fundos do seu amigo e benfeitor Stachouwer. Logo se apoderou das propriedades dos dois sócios, os engenhos: Guerra/Cabo de Santo Agostinho, Ilhetas (Nossa Senhora de França ou Nossa Senhora de Guadalupe)/Serinhaém, Meio/Recife, Santana/Jaboatão dos Guararapes e Velho ou da Madre de Deus/Cabo de Santo; e assumiu  os débitos contraídos por Stachower e de Ridder na compra das propriedades à Companhia das Índias Ocidentais (débito que nunca foi pago). Logo Fernandes Vieira e se tornou um dos homens mais ricos da Capitania, proprietário de 16 engenhos e de mais de 1.000 escravos.
Fernandes Vieira foi indicado Escabino de Olinda e do Recife (07/1641 a 06/1642, sendo conduzido ao cargo de 1642/43). Escabino de Maurícia (Recife) de 07/1641 a 06/1642, sendo conduzido ao cargo de 1642/43. Contratador de dízimos de açúcar da Capitania de Pernambuco e de Itamaracá.  Representante dos luso-brasileiros da Várzea do Capibaribe na Assembleia convocada pelo Conde Maurício de Nassau para assuntos do governo (1640). Mestre de Campo do Terço de Infantaria de Pernambuco. Participou da defesa do Arraial do Bom Jesus/Recife (1635), com apenas 22 anos. Fernandes Vieira levantou em Olinda a Igreja de Nossa Senhora do Desterro, hoje conhecida por Santa Thereza, onde antigamente funcionava o Colégio das Órfãs, antes dos Órfãos.
Embora fosse um dos mais importantes senhores de engenho da Capitania, para ser incorporado à nobreza rural de Pernambuco, em razão de sua suposta cor parda, de seu “defeito mecânico” (trabalhos manuais) e de sua “falta de qualidade de origem”, teve que contrair matrimônio com uma moça pertencente a uma das famílias mais importantes da Capitania. Com o casamento Fernandes Vieira que já era colaborador e conselheiro em assuntos brasileiros do governo holandês se tornaria, também um dos homens mais importantes da Capitania, com apoio da comunidade luso-brasileira através do seu prestígio econômico e social, e de doações para igrejas, confrarias e pessoas necessitadas.
Fernandes Vieira era um dos maiores devedores da Companhia das Índias Ocidentais, com uma dívida estimada em 219.854 florins, que nunca foi paga, pois alegou no seu Testamento que os chefes holandeses "são devedores de mais de 100 mil cruzados (...) de peitas e dádivas a todos os governadores (...) grandiosos banquetes que ordinariamente lhes dava pelos trazer contentes".
Após a partida do Conde Maurício de Nassau (1644) Vieira viu a intensificação da insatisfação do povo pernambucano, influenciado pelo seu sogro e percebendo as vantagens econômica e social a serem alcançada com a expulsão dos holandeses e da Companhia das Índias Ocidentais passou para o lado dos Insurrectos pernambucanos.
Reúne-se com várias lideranças rurais nas matas do engenho Santana, onde traçam os planos para expulsar os holandeses do Brasil. Como contragolpe, lança a campanha de Restauração de Pernambuco, servindo-se da mesma táctica manhosa dos inimigos e passa a circular nos dois lados: holandeses e luso-brasileiros. Nessa mesma época os holandeses o chamam para ser Agente de Negócios da Companhia e membro do seu Conselho Supremo, ficando Vieira, conhecedor de todas as tramas e recursos.
João Fernandes Vieira escreve a D. João IV pedindo-lhe licença para resgatar as Capitanias invadidas da mão dos usurpadores, ao que o Monarca se opõe. Descobrindo os holandeses os seus intentos, atraíram-no ao Recife, mas Vieira iludiu-os e pôs-se em campo, levantando a bandeira da Insurreição Pernambucana – de fazenda em fazenda, de engenho em engenho incentivando a revolução e declarando traidores os que não seguissem a sua causa. O Conselho holandês põe a cabeça de Vieira em prêmio e em resposta Fernandes Vieira põe preço a cabeça dos membros do Conselho e se torna um dos líderes da chamada Insurreição Pernambucana e um dos heróis da Restauração de Pernambuco.
NOTA: Segundo José Antônio Gonçalves de Melo: A insurreição de 1645 foi preparada por senhores de engenho, na sua maior parte, devedores a flamengos ou judeus da cidade. Foi nitidamente um levante de elementos rurais, no qual tomaram parte, negros escravos, lavradores, pequenos proprietários de roças, contratadores de corte de pau-brasil, e outros.
Após a tomada do eng. Casa Forte, Vieira voltou com seus homens ao seu engenho São João/Recife-Várzea do Capibaribe, e de lá iniciou um sistema de estâncias militares, espécie de fortificações onde pudessem estar seguros e guardar pólvora e munições de guerra. Vieira participa da guerra contra os holandeses e, vence junto com sua tropa, a Batalha das Tabocas em Vitória de Santo Antão/PE, em 03/08/1645, e a Batalha de Casa Forte/Recife, junto aos heróis: André Vidal de Negreiros, Henrique Dias e Felipe Camarão, em 17/08/1645.
Com a Batalha dos Guararapes, sob o comando do General Barreto de Meneses, em 19/04/1648 e 19/02/1649, os holandeses são finalmente vencidos e expulsos de Pernambuco e, como recompensa pelos serviços prestados na guerra João Fernandes Vieira é recompensado pelo Rei D. João IV com os cargos: de Governador da Paraíba (1655/57), Capitão General do Reino de Angola (1658/61) e Superintendente das Fortificações de Pernambuco e das Capitanias vizinhas, até o Ceará, (1661/81).
Depois do tratado de paz entre Portugal e a Holanda (1661), Fernandes Vieira figurava em 2º lugar na lista de devedores dos brasileiros à Companhia das Índias Ocidentais, com o débito de 321.756 florins, cuja dívida nunca foi paga.
Já idoso Fernandes Vieira encomenda ao Frei Rafael de Jesus um livro sobre a sua vida, exaltando seus feitos, a exemplo do que Gaspar Barléu havia escrito sobre o conde Maurício de Nassau, surgindo assim o Castrioto lusitano, no qual o autor o compara ao príncipe guerreiro albanês Jorge Scanderberg Castrioto, que lutou intensamente contra os turcos e a Sérvia pela recuperação da Albânia, que havia sido anexada à Turquia. Vieira falece, com 85 anos de idade, em 10/01/1681-Olinda, mas só em 1886 seus restos mortais foram descobertos na capela-mor da igreja do Convento de Olinda. Em 1942, seus ossos foram trasladados para a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres dos Montes Guararapes, sendo depositados na parede da capela-mor, com uma inscrição comemorativa.
Em 1664 o valor das contribuições dos escravos alforriados (pelas suas várias modalidades) da finta paga pelos mestres, banqueiros e purgadores de açúcar, era muito alta, fazenda dessas profissões uma categoria economicamente importante, os quais às vezes se equiparavam, quando não sobrelevavam, em valor de contribuição a muitos lavradores de canaviais. Segundo documentação encontrada no Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa – Pernambuco, papéis avulsos. Cx 5 o Gov. Fernandes pagava anualmente nas suas fazendas: Jaguaribem, Maranguape, Salinas e Forno de Cal) o equivalente a 50$ (cinquenta mil réis).
Em 1664 o valor das contribuições dos escravos alforriados (pelas suas várias modalidades) da finta paga pelos mestres, banqueiros e purgadores de açúcar, era muito alta, fazenda dessas profissões uma categoria economicamente importante, os quais às vezes se equiparavam, quando não sobrelevavam, em valor de contribuição a muitos lavradores de canaviais. Segundo documentação encontrada no Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa – Pernambuco, papéis avulsos. Cx 5 o Gov. Fernandes pagava anualmente nas suas fazendas: Jaguaribem, Maranguape, Salinas e Forno de Cal) o equivalente a 50$ (cinquenta mil réis).
Senhor dos engenhos: Abiaí/Itamaracá; do Meio/Recife-Várzea; Guerra/Cabo de Santo Agostinho; Ilhetas, Nossa Senhora de França, ou Nossa Senhora de Guadalupe/Serinhaém; Jacaré/Goiana; Molinote, ou Santa Luzia, depois Sacambu/Cabo de Santo Agostinho; Santana/Jaboatão dos Guararapes; Santo André/Jaboatão dos Guararapes - Muribeca; Santo Antônio/Goiana; São João (antes Nossa Senhora do Rosário)/Recife-Várzea; Velho ou da Madre de Deus/Cabo de Santo Agostinho. Na Paraíba: Inhaman, Inhobim ou dos Santos Cosme e Damião, Gargaú e São Gabriel. Tibiri de Baixo e Tibiri de Cima.
Casamento 01: D. Maria César, em 1643 – Filha do madeirense e senhor de engenho Francisco Berenguer de Andrade (eng. Giquiá/Recife), pessoa de boa estirpe perante o clã dos Albuquerque e de Joana de Albuquerque. (s.g.)
Filhos fora do casamento:
01- Manuel Fernandes Vieira – Sacerdote do hábito de São Pedro com ações de algumas Mercês de seu Pai. Vigário de Itamaracá. Perfilhado nos livros de Sua Magestade. Comendador de Santa Eugénia Alla, que vagou por falecimento de seu Pai João Francisco. Senhor do engenho Inhaman;
02- D. Maria Joanna – Filha natural de João Fernandes Vieira e de D. Cosma Soares. C.c. Jeronymo Cesar de Mello Fidalgo da Casa Real, Cavalheiro da Ordem de Cristo e Capitão-mor de Maranguape; filho de Agostinho Cesar de Andrada (Gov. do Rio Grande do Norte) e de D. Laura de Mello;
03- D. Joaurza Fernandes Cesar – C.c. Gaspar Achioli de Vasconcellos, Fidalgo Cavaleiro da Casa Real, filho de João Baptista Achioli e de sua mulher D. Maria de Mello. Alcaide-mor da cidade da Paraíba do Norte, e senhor do eng. Santo Andre;
04- Maria de Arruda, falecida ainda criança.
Fontes:
BORGES DA FONSECA, Antônio José Victoriano. Nobiliarquia Pernambucana. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro Anais 1885-1886 Vol. 13; 1902 Vol. 24; 1925 Vol. 47; 1926 Vol. 48
CALADO, Frei Manoel. O Valeroso Lucideno e triunpho da liberdade, Edições Cultura, São Paulo, 1943, tomo I, p. 318 e tomo II, p. 12, 14
Diário de Pernambuco. Os Holandeses em Pernambuco – Uma História de 24 anos. João Fernandes Vieira. Publicado em 22.09.2003.
Fontes para História do Brasil Holandês – 1636, Willem Schott. A Economia Açucareira. Inventário feito pelo Conselheiro Schott Cia. CEPE, MEC/SPHAN/Fundação Pró-Memória Local: Recife, 1981
Francisco Adolpho de Varnhagen, E. e H. Laemmert, 1857. Historia geral do Brazil, Volume 2.
GASPAR, Lúcia. João Fernandes Vieira. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: http://basilio.fundaj.gov.br
MELLO, Evaldo Cabral de. O Bagaço de Cana: os engenhos de açúcar do Brasil holandês. Edt. Penguim & Companhia das Letras.1ª edição. São Paulo, 2012. Pág. 74.
MELLO, José Antônio Gonsalves de. Restauradores de Pernambuco: biografias de figuras do século XVII que defenderam e consolidaram a unidade brasileira: João Fernandes Vieira. Recife: Imprensa Universitária, 1967. 2
Revista do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco. Vol. LVI. Recife, 1981.
Revista do Instituto Archeológico e Geográphico de Pernambco. Volume 1, Edições 1-12
SANTIAGO, Diogo Lopes, História da Guerra de Pernambuco, Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, Recife, 1984, p. 258
  
Francisco Berenguer de Andrade (II) – Filho de uma das pessoas mais importantes da época o Coronel Francisco Berenguer de Andrade (Fidalgo da Ilha da Madeira, Cavaleiro da Ordem de Cristo, Coronel. Juiz de Órfãos) e de sua segunda esposa D Antônia Bezerra. Neto materno de Antônio Bezerra e Izabel Lopes. Irmão por parte de pai de Maria Cesar que c.c. João Fernandes Vieira. Cavaleiro da Ordem de Cristo. Capitão-mor de Igarassu. (s.g.)
CURIOSIDADES: Segundo Borges da Fonseca existiram relatos que Francisco Berenguer escrevera algumas anotações genealógicas sobre as famílias pernambucanas que viveram no seu tempo, em torno de 1686, de tal maneira indiscreta, que foi queimada pelo seu primo Antônio Ribeiro de Lacerda, por não concordar com que estava escrito sobre sua pessoa.
Senhor do engenho Aiamã de Baixo/Igarassu; Tejipió/Tejipió-Recife
Fontes:
http://geneall.net/pt/nome/251097/francisco-berenguer-de-andrade/
Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Anais 1902 Vol 24 (1), pág. 218;  1903 Vol 25 (1), pág. 99.
BORGES DA FONSECA, Antônio José Victoriano. Nobiliarquia Pernambucana. Anais 1926 Vol 48 (5), pág. 06, 234, 236, 244
MELLO, Evaldo Cabral de. O Bagaço de Cana: os engenhos de açúcar do Brasil holandês. Edt. Penguim & Companhia das Letras.1ª edição. São Paulo, 2012. Pág. 74.
MELLO, Evaldo Cabral de. O Nome e o Sangue. Edt. Companhia de Bolso. São Paulo, 2009. Pág. 26, 30, 77, 132, 146-7.

2 comentários:

Unknown disse...

O artigo lincado abaixo é interessante para compreender a dinâmica atual do bairro: http://www.revista.ufpe.br/rbgfe/index.php/revista/article/viewArticle/1435

Unknown disse...

O artigo lincado abaixo é interessante para compreender a dinâmica atual do bairro: http://www.revista.ufpe.br/rbgfe/index.php/revista/article/viewArticle/1435