As terras que
viriam a ser o Recife e sua região metropolitana, tinham povoados dispersos em
vários núcleos: do porto, de vilas e de engenhos que formavam núcleos de
população pois contavam cerca de 100 a 200 moradores cada um. Entre esses
núcleos podemos citar o engenho Tejipió/Tejipió-Recife, antes Jaboatão dos Guararapes,
fundado por Antônio de Andrade
Caminha, no século XVI.
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Localização do Bairro de Tejipio-Recife |
O engenho Tejipió não possuía igreja
nem orago (patrono, orago ou padroeiro é um santo ou anjo a quem
se dedicada uma localidade, povoado, capela ou igreja). A moenda da fábrica era movida a animais,
suas terras ficavam localizadas na margem esquerda do Rio Tejipió (Rio dos
Cedros ou Rio dos Afogados), freguesia da Várzea, sob a jurisdição de Olinda-Capitania
de Pernambuco. Todo o açúcar fabricado no engenho era enviado para o Recife acondicionado
em caixas de madeira, em pequenos barcos pelo Rio Tejipió, que na época era
navegável. Com o passar do tempo, essas caixas foram substituídas por sacos
de algodão.
Entre as pessoas de ofício processadas durante
a Primeira Visitação do Santo Ofício às partes do Brasil (1593-1595), estava Sebastião
Pires Abrigueiro (de Abrideiro?) que era carreiro no engenho Tejipió.
Em 1609 o engenho pertencia a Antônio de Andrade da Cunha, filho e
herdeiro de Antônio de Andrade Caminha.
O engenho foi citado nos seguintes
mapas coloniais: PRÆFECTURÆ PARANAMBUCÆ PARS BOREALIS, una
cum PRÆFECTURA de ITÂMARACÂ; PE-C (IAHGP-Vingboons, 1640) #40 CAPITANIA DE
PHARNAMBOCQVE, plotado como engenho, 'TisԐpio Ԑ.', na m.d. do 'Rº. TisԐpio'; IT
(IAHGP-Vingboons, 1640) #43 CAPITANIA DE I. TAMARICA, plotado como engenho, 'Ԑ
TisԐpio', na m.d. do 'Rº. TisԐpio'.
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Luta contra os holandeses. |
O próximo proprietário encontrado
foi Antônio Fernandes Pessoa “o Mingau”, (senhor do engenho
Jiquiá (São Timóteo, Novo, Santo Antônio, Mingau)/Mangueira-Recife) que durante
a invasão holandesa abandonou suas propriedades e arrendou e depois comprou o engenho
Sibiró/Ipojuca, no qual faleceu.
Em 1637 o engenho se encontrava de fogo
morto e completamente arruinado, só restando em suas terras um grande partido
de cana. Mas, em 1640 os holandeses venderam as terras do engenho como uma
grande fazenda ao líder da Insurreição Pernambucana o Mestre de Campo João Fernandes Vieira e, por
isso, o local passou a ser um dos centros de conspirações contra os invasores. Em
suas terras Fernandes Vieira construiu uma bela e espaçosa casa de vivenda,
para a sua habitação.
Deflagrada a luta dos pernambucanos
contra os holandeses, as terras do Tejipió serviram de acampamento para uma
tropa vinda da Bahia, sob o comando dos Mestres de Campo André Vidal de
Negreiros e Martin Afonso Moreno. Essa tropa tinha se juntado ao exército
independente pernambucano, na povoação do Cabo de Santo Agostinho. Foi do
engenho, inclusive, que partiram muitos soldados para a batalha das Tabocas em
Vitória de Santo Antão.
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Fernandes Vieira. |
A essa propriedade se refere João
Fernandes Vieira no seu testamento celebrado em 1674 na sua fazenda de
Maranguape, dizendo que ficava junto e ‘adiante do engenho São
Francisco da Várzea, de André Vidal de Negreiros, as terras de Tejipió, que vão
para Nossa Senhora da Luz, com a extensão de meia légua quadrada, que comprara
a Sebastião Bezerra’.
Segundo a Relação dos Engenhos moentes
da Capitania de Pernambuco, Itamaracá e Paraíba (1655) o engenho Tijipio estava
de fogo vivo, em 1655, e pagava 1,5% de pensão sobre todo o açúcar que feito
antes de ser dizimado, e pertencia a Francisco Berenguer de Andrada (II), cunhado de João
Fernandes Vieira, último proprietário encontrado.
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Igreja N. Sr. do Rosário |
Em meados do século XVIII, já não mais
existia o casarão do engenho, e em seu lugar foi construída uma capela sob a
invocação de Nossa Senhora do Rosário. De acordo com uma placa fixada na
soleira da porta principal, a capela situava-se a 21,45m acima do nível médio
do mar. Esse templo deu sepultura, em seu cemitério privativo, aos membros da
igreja e aos filhos (até a idade de sete anos), de João Fernandes Vieira,
estendendo o benefício às pessoas pobres.
Em 1819, mediante um aterro, o
governador de Pernambuco, Luís do Rego Barreto, construiu uma estrada para
Tejipió. Isso veio facilitar a comunicação do povoado com a cidade do Recife. A
primeira estrada de rodagem, porém, que ia de Afogados até Areias, só foi
construída em 1836.
Em 1863, Antônio Frederico de Castro Alves (1847-1871) quando veio
para o Recife estudar Direito, morou no bairro do Barro, caminho de Tejipió,
com a artista portuguesa Eugênia Câmara, considerada a melhor atriz do Império,
e que era dez anos mais velha que ele. Eugênia, que chegara ao Brasil com
Furtado Coelho, foi o grande amor de Castro Alves e influência decisiva de sua
vida e por ele foi homenageada em versos, no Teatro Santa Isabel.
No início do século XX, o bairro de
Tejipió era um distrito de Jaboatão dos Guararaapes até que no ano de 1928 foi
anexado ao Recife, por ordem do Governador Estácio Coimbra. Nesse período, o
local era muito movimentado, tendo um mercado público, construído pela
prefeitura de Jaboatão cujo prefeito na época era Nobre de Lacerda. Este
mercado foi posteriormente destruído para que os ônibus elétricos pudessem
fazer a volta. Tejipió também possuía uma imprensa bastante movimentada com
vários jornais locais como "O Echo".
Hoje o bairro de Tejipió integra a 5ª
Região Político-Administrativa (RPA 5) e faz limites com os
bairros Coqueiral, Sancho, Curado, Jardim São Paulo,
Barro e com o município de Jaboatão dos Guararapes, possuí uma área
territorial de 104,3 ha, uma população residente de 8.486 habitantes (censo de
2.000) e uma densidade demográfica de 81,39 hab./ha.
Fontes:
CAVALCANTI, Carlos Bezerra. O
Recife e seus bairros. Recife: Câmara Municipal do Recife, 1998.
FRANCA, Rubem. Monumentos do
Recife: estátuas e bustos, igrejas e prédios, lápides, placas e inscrições
históricas do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.
GUERRA, Flávio. Velhas igrejas e
subúrbios históricos. Recife: Fundação Guararapes, 1970.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tejipi%C3%B3
MELLO, Evaldo Cabral de. O Bagaço de
Cana. Edt. Penguin & Companhia das Letras. 1ª edição. São Paulo,
2012.Pág. 57, 58
PEREIRA DA COSTA, F. A. Anais
Pernambucanos. 1795-1817. 2ª Edição. FUNDARPE. Gov. de Pernambuco. Recife,
1983. Vol. 2:130, 595, 602
Arredores do Recife. Recife:
Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1981.
PEREIRA, Levy.
"TaijĩbĩpiôTeiibipio (engenho de bois)". In: BiblioAtlas - Biblioteca
de Referências do Atlas Digital da América Lusa. Disponível em: http://lhs.unb.br/biblioatlas/Taij%C4%A9b%C4%A9pi%C3%B4Teiibipio_(engenho_de_bois). Data de acesso: 7 de julho de 2015.
Primeira Visitação do Santo Ofício às
partes do Brasil; Denunciações e Confissões de Pernambuco 1593-1595. Prefácio
de José Antônio Gonsalves de Mello. Recife, FUNDARPE. Pág 15. Diretoria de
Assuntos Culturais 1984. 509+158 p. Il (Coleção pernambucana – 2ª fases. 14)
Proprietários encontrados:
1598 - Antônio de Andrade Caminha – Nascido no Conselho
do Bem Viver/Bispado do Porto. Filho da governança do Porto/PT. Em 1598 residia
em Olinda.
Fontes
Primeira Visitação do Santo Ofício às
partes do Brasil; Denunciações e Confissões de Pernambuco 1593-1595. Prefácio
de José Antônio Gonsalves de Mello. Recife, FUNDARPE. Pág 15. Diretoria de
Assuntos Culturais 1984. 509+158 p. Il (Coleção pernambucana – 2ª fases. 14)
MELLO, Evaldo Cabral de. O Bagaço de
Cana. Edt. Penguin & Companhia das Letras. 1ª edição. São Paulo,
2012.Pág. 57, 58
1609 - Antônio de Andrade da Cunha – Filho e herdeiro de
Antônio de Andrade Caminha.
Fontes:
MELLO, Evaldo Cabral de. O Bagaço de
Cana. Edt. Penguin & Companhia das Letras. 1ª edição. São Paulo,
2012.Pág. 57, 58
1630 - Antônio Fernandes Pessoa “o Mingau” – Natural
de Pernambuco. Faleceu em torno de 1633, de acordo com o formal de partilha de
seu filho Pedro de Lyra Pessoa, passado em 15.09.1698 pelo Juiz de Órfãos de
Serinhaém, Diogo de Guimarães de Azevedo, tendo como escrivão Antônio Fernandes
Bittencourt de Mello. Filho de Pedro Afonso Duro (português e Fidalgo da Casa
Real, senhor do engenho da Madalena/Recife) e de D Madalena Gonsalves, que
ainda vivia em 1643 e residia em Olinda, em uma casa própria próxima à matriz
de São Pedro Mártir, de acordo com uma escritura de compra de umas terras
situadas na Várzea, feita por Antônio Fernandes Pessoa. Padroeiro da
capela do Senhor Bom Jesus dos Passos da Graça.
Senhor do engenho Jiquiá (São Timóteo, Novo, Santo Antônio, Mingau)/Mangueira-Recife; Tejipió/Tejipió-Recife; Sibiró/Ipojuca;
Casamento 01: D. Maria de Aguiar, que segundo Borges da
Fonseca já era falecida antes de 1647, como se vê no inventário que foi feito
no ano seguinte pelo Juiz de Órfãos o Sr. Francisco Berenguer de Andrada, cujo
escrivão foi Manoel de Pinho Soares. Filha de Gaspar de Aguiar e de Maria de
Lima. Neta paterna de Thomé de Castro e de Maria Nova de Lyra, irmã de Gonçalo
Novo de Lyra (Procurador Fiscal do Santo Ofício em 1600)
Filhos:
01- Conrado – Padre Franciscano. Religioso da Ordem de
São Francisco. Já era Professo quando foi feito o inventário de sua mãe, porque
dele não se faz menção;
02- Manoel de Aguiar – De acordo com o inventário de
sua mãe era viúvo, porem não foi declarado o nome de sua esposa. (c. geração
desconhecida);
03- Gaspar de Lyra – Assassinado em terras do engenho
Sibiró/Serinhaem. Solteiro. (c.g.);
04- Antônio... – Em 1648 tinha apenas 08 anos de idade;
05- Pedro de Lyra Pessoa – Em 1648 tinha apenas 05 anos
de idade. Casado em Portugal. Em 03.03.1657 se encontrava em Pernambuco,
cobrando a sua legítima, para tanto apresentou uma procuração de sua esposa D.
Luisa do Amaral, residente em Tomar/PT. Em 01.11.1705, ainda era vivo, como se
vê no recibo que passou ao pé do seu formal de partilhas aos herdeiros do Cap.
Antônio Borges Uchoa. (c. geração desconhecida);
06- Barbara de Lyra – Falecida em 1661, com inventário
feito em 12.06 do dito ano. C.c. Miguel Ferreira. (c.g.);
07- D. Angela de Lyra Pessoa – Com testamento feito em
10.02.1657/Várzea. Falecida em 1658, pois nesse ano o Juiz de Órfãso, o
Licenciado Antônio Pereira, escrivão Francisco Correia Pinto, fez o inventário
dos bens que ficaram por seu falecimento. Primeira esposa do Tenente Thomé
Soares de Brito. (c.g.);
08- D. Anna de Lyra Pessoa – Em 1648 tinha 12 anos de
idade. C.c. Luiz da Silva, em 1648, que recebeu como dote de casamento de seu
pai o engenho Jiquiá, com a obrigação de pagar as legítimas aos seus cunhados,
de acordo com a escritura do engenho São Paulo do Sibiró/Serinhaem, na nota do
Tabelião Sebastião de Guimarães, em 03.02.1653. Viúva, pouco tempo depois, D.
Anna c.c. Francisco de Faria Uchoa, filho de Marcos André (senhor do eng. da
Torre) e de D. Maria de Mendonsa Uchoa. Em 03.03.1657 D Anna e Francisco Uchoa
venderam o engenho ao Cap. Antônio Borges Uchoa. (c.g.)
Fontes:
BORGES DA FONSECA, Antônio José
Victoriano. Nobiliarquia Pernambucana. Anais 1925 Vol 47 (1) pág. 150, 151, 152
PEREIRA DA COSTA, F. A. Anais
Pernambucanos. 1795-1817. 2ª Edição. FUNDARPE. Gov. de Pernambuco. Recife,
1983. Vol. 1 pág: 587; Vol. 2 pág: 130-133
MELLO, Evaldo Cabral de. O Bagaço de
Cana. Edt. Penguin & Companhia das Letras. 1ª edição. São Paulo,
2012.Pág. 57, 58
PEREIRA DA COSTA, F. A. Anais
Pernambucanos. 1795-1817. 2ª Edição. FUNDARPE. Gov. de Pernambuco. Recife,
1983. Vol. 2:130, 602
1640 - João Fernandes Vieira – Nasceu em
29/06/1596-Funchal/Ilha da Madeira/PT e faleceu em 1679. Filho do fidalgo
Francisco de Ornelas Muniz com Antônia Mendes. Seu pai era bisneto de
Tristão Vaz, o primeiro donatário de Machico. Sua mãe era bisneta de Pedro
Vieira, morgado da Ribeira de Machico; entre os seus bisavôs se encontra
António Fernandes, sesmeiro nas Covas do Faial, no norte da ilha da Madeira. Em
1606, com 10 anos de idade, Fernandes Vieira imigrou para a Capitania de
Pernambuco, pois como não era o filho primogênito - herdeiro de todo o legado
dos pais, se viu obrigado a emigrar para o “Além-Mar”, para adquirir fortuna,
como muitos jovens portugueses da época.
Assim que chegou a Pernambuco trocou o seu nome de Francisco de Ornelas
Moniz Júnior, para João Fernandes Vieira, um disfarce muito usado pela corrente
emigratória para o Brasil, pois queriam esconder sua origem nobre, para poderem
trabalhar escondidos em serviços braçais, uma desonra para a época. Seu
primeiro trabalho foi como ajudante de mascate, em troca de comida e morada;
depois foi auxiliar do mercador do comerciante Afonso Rodrigues Serrão,
que ao falecer o deixou como único herdeiro do seu negócio e de algumas casas
na Vila de Olinda.
Em 1630, com a invasão holandesa João Fernandes Vieira se alistou como
voluntário de guerra. Em 1634, participou da resistência luso-brasileira no
Forte de São Jorge.
Após 1635, Fernando Vieira tornou-se muito amigo e depois sócio do
Conselheiro Político da Companhia das Índias Ocidentais, Jacob Stachouwer, de
quem depois foi feitor-mor de seus engenhos: Ilhetas (Nossa Senhora de França,
ou Nossa Senhora de Guadalupe)/Serinhaém, Meio/Recife, Santana/Jaboatão dos
Guararapes. Nota: Em seu testamento Fernandes Vieira declarou sobre sua
aproximação com Stachouwer: “Declaro que no tempo dos holandeses por remir
minha vexação e viver mais seguro entre eles, tive apertada amizade com Jacob
Estacour, homem principal da nação flamenga, com diferença nos costumes, e com
ele fiz negócios de conformidade e por conta de ambos (...)”.
Nessa época Fernandes Vieira era descrito como um homem de aspecto
melancólico, testa batida, feições pontudas, olhos grandes, mas amortecidos, e
de poucas falas, exceto quando se ocupava de si, pois desconhecia a virtude da
modéstia. Ativo, ambicioso e inteligente, durante a trégua estabelecida entre
Portugal e a Holanda, estabeleceu ligações estreitas com os holandeses, o que
lhe proporcionou ascensão econômica e social.
Com a partida de Stachouwer e de seu sócio de Nicolaes de Rideer,
Vieira passou a lucrar com a administração dos engenhos e dos fundos do seu
amigo e benfeitor Stachouwer. Logo se apoderou das propriedades dos dois sócios,
os engenhos: Guerra/Cabo de Santo Agostinho, Ilhetas (Nossa Senhora de França
ou Nossa Senhora de Guadalupe)/Serinhaém, Meio/Recife, Santana/Jaboatão dos
Guararapes e Velho ou da Madre de Deus/Cabo de Santo; e assumiu os
débitos contraídos por Stachower e de Ridder na compra das propriedades à
Companhia das Índias Ocidentais (débito que nunca foi pago). Logo Fernandes
Vieira e se tornou um dos homens mais ricos da Capitania, proprietário de 16
engenhos e de mais de 1.000 escravos.
Fernandes Vieira foi indicado Escabino de Olinda e do Recife
(07/1641 a 06/1642, sendo conduzido ao cargo de 1642/43). Escabino de Maurícia
(Recife) de 07/1641 a 06/1642, sendo conduzido ao cargo de 1642/43. Contratador
de dízimos de açúcar da Capitania de Pernambuco e de Itamaracá. Representante
dos luso-brasileiros da Várzea do Capibaribe na Assembleia convocada pelo Conde
Maurício de Nassau para assuntos do governo (1640). Mestre de Campo do Terço de
Infantaria de Pernambuco. Participou da defesa do Arraial do Bom Jesus/Recife
(1635), com apenas 22 anos. Fernandes Vieira levantou em Olinda a Igreja
de Nossa Senhora do Desterro, hoje conhecida por Santa Thereza, onde
antigamente funcionava o Colégio das Órfãs, antes dos Órfãos.
Embora fosse um dos mais importantes senhores de engenho da Capitania,
para ser incorporado à nobreza rural de Pernambuco, em razão de sua suposta cor
parda, de seu “defeito mecânico” (trabalhos manuais) e de sua “falta de
qualidade de origem”, teve que contrair matrimônio com uma moça pertencente a
uma das famílias mais importantes da Capitania. Com o casamento Fernandes
Vieira que já era colaborador e conselheiro em assuntos brasileiros do governo
holandês se tornaria, também um dos homens mais importantes da Capitania,
com apoio da comunidade luso-brasileira através do seu prestígio econômico
e social, e de doações para igrejas, confrarias e pessoas necessitadas.
Fernandes Vieira era um dos maiores devedores da Companhia das Índias
Ocidentais, com uma dívida estimada em 219.854 florins, que nunca foi paga,
pois alegou no seu Testamento que os chefes holandeses "são devedores
de mais de 100 mil cruzados (...) de peitas e dádivas a todos os governadores
(...) grandiosos banquetes que ordinariamente lhes dava pelos trazer
contentes".
Após a partida do Conde Maurício de Nassau (1644) Vieira viu a
intensificação da insatisfação do povo pernambucano, influenciado pelo seu
sogro e percebendo as vantagens econômica e social a serem alcançada com a
expulsão dos holandeses e da Companhia das Índias Ocidentais passou para o lado
dos Insurrectos pernambucanos.
Reúne-se com várias lideranças rurais nas matas do engenho
Santana, onde traçam os planos para expulsar os holandeses do Brasil. Como
contragolpe, lança a campanha de Restauração de Pernambuco, servindo-se da
mesma táctica manhosa dos inimigos e passa a circular nos dois lados:
holandeses e luso-brasileiros. Nessa mesma época os holandeses o chamam para
ser Agente de Negócios da Companhia e membro do seu Conselho Supremo, ficando
Vieira, conhecedor de todas as tramas e recursos.
João Fernandes Vieira escreve a D. João IV pedindo-lhe licença para
resgatar as Capitanias invadidas da mão dos usurpadores, ao que o Monarca se
opõe. Descobrindo os holandeses os seus intentos, atraíram-no ao Recife, mas
Vieira iludiu-os e pôs-se em campo, levantando a bandeira da Insurreição
Pernambucana – de fazenda em fazenda, de engenho em engenho incentivando a
revolução e declarando traidores os que não seguissem a sua causa. O Conselho
holandês põe a cabeça de Vieira em prêmio e em resposta Fernandes Vieira põe
preço a cabeça dos membros do Conselho e se torna um dos líderes da chamada
Insurreição Pernambucana e um dos heróis da Restauração de Pernambuco.
NOTA: Segundo José Antônio Gonçalves de Melo: A
insurreição de 1645 foi preparada por senhores de engenho, na sua maior parte,
devedores a flamengos ou judeus da cidade. Foi nitidamente um levante de
elementos rurais, no qual tomaram parte, negros escravos, lavradores, pequenos
proprietários de roças, contratadores de corte de pau-brasil, e outros.
Após a tomada do eng. Casa Forte, Vieira voltou com seus homens ao seu
engenho São João/Recife-Várzea do Capibaribe, e de lá iniciou um sistema
de estâncias militares, espécie de fortificações onde pudessem estar
seguros e guardar pólvora e munições de guerra. Vieira participa da guerra
contra os holandeses e, vence junto com sua tropa, a Batalha das Tabocas em
Vitória de Santo Antão/PE, em 03/08/1645, e a Batalha de Casa Forte/Recife,
junto aos heróis: André Vidal de Negreiros, Henrique Dias e Felipe Camarão, em
17/08/1645.
Com a Batalha dos Guararapes, sob o comando do General Barreto de
Meneses, em 19/04/1648 e 19/02/1649, os holandeses são finalmente vencidos e
expulsos de Pernambuco e, como recompensa pelos serviços prestados na guerra
João Fernandes Vieira é recompensado pelo Rei D. João IV com os cargos: de
Governador da Paraíba (1655/57), Capitão General do Reino de Angola (1658/61) e
Superintendente das Fortificações de Pernambuco e das Capitanias vizinhas, até
o Ceará, (1661/81).
Depois do tratado de paz entre Portugal e a Holanda (1661), Fernandes
Vieira figurava em 2º lugar na lista de devedores dos brasileiros à Companhia
das Índias Ocidentais, com o débito de 321.756 florins, cuja dívida nunca foi
paga.
Já idoso Fernandes Vieira encomenda ao Frei Rafael de Jesus um livro
sobre a sua vida, exaltando seus feitos, a exemplo do que Gaspar Barléu havia
escrito sobre o conde Maurício de Nassau, surgindo assim o Castrioto
lusitano, no qual o autor o compara ao príncipe guerreiro albanês Jorge Scanderberg
Castrioto, que lutou intensamente contra os turcos e a Sérvia pela recuperação
da Albânia, que havia sido anexada à Turquia. Vieira falece, com 85 anos de
idade, em 10/01/1681-Olinda, mas só em 1886 seus restos mortais foram
descobertos na capela-mor da igreja do Convento de Olinda. Em 1942, seus ossos
foram trasladados para a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres dos Montes
Guararapes, sendo depositados na parede da capela-mor, com uma inscrição
comemorativa.
Em 1664 o valor das contribuições dos escravos alforriados (pelas suas
várias modalidades) da finta paga pelos mestres, banqueiros e purgadores de
açúcar, era muito alta, fazenda dessas profissões uma categoria economicamente
importante, os quais às vezes se equiparavam, quando não sobrelevavam, em valor
de contribuição a muitos lavradores de canaviais. Segundo documentação
encontrada no Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa – Pernambuco, papéis
avulsos. Cx 5 o Gov. Fernandes pagava anualmente nas suas fazendas: Jaguaribem,
Maranguape, Salinas e Forno de Cal) o equivalente a 50$ (cinquenta mil réis).
Em 1664 o valor das contribuições dos escravos alforriados (pelas suas
várias modalidades) da finta paga pelos mestres, banqueiros e purgadores de
açúcar, era muito alta, fazenda dessas profissões uma categoria economicamente
importante, os quais às vezes se equiparavam, quando não sobrelevavam, em valor
de contribuição a muitos lavradores de canaviais. Segundo documentação
encontrada no Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa – Pernambuco, papéis avulsos.
Cx 5 o Gov. Fernandes pagava anualmente nas suas fazendas: Jaguaribem,
Maranguape, Salinas e Forno de Cal) o equivalente a 50$ (cinquenta mil réis).
Senhor dos
engenhos: Abiaí/Itamaracá; do
Meio/Recife-Várzea; Guerra/Cabo de Santo Agostinho; Ilhetas, Nossa Senhora de
França, ou Nossa Senhora de Guadalupe/Serinhaém; Jacaré/Goiana; Molinote, ou
Santa Luzia, depois Sacambu/Cabo de Santo Agostinho; Santana/Jaboatão dos
Guararapes; Santo André/Jaboatão dos Guararapes - Muribeca; Santo Antônio/Goiana; São João (antes Nossa
Senhora do Rosário)/Recife-Várzea; Velho ou da Madre de Deus/Cabo de Santo
Agostinho. Na
Paraíba: Inhaman, Inhobim ou dos Santos Cosme e Damião, Gargaú e
São Gabriel. Tibiri de Baixo e Tibiri de Cima.
Casamento 01: D. Maria César, em 1643 – Filha do
madeirense e senhor de engenho Francisco Berenguer de Andrade (eng. Giquiá/Recife),
pessoa de boa estirpe perante o clã dos Albuquerque e de Joana de Albuquerque.
(s.g.)
Filhos fora do casamento:
01- Manuel Fernandes Vieira – Sacerdote do hábito de
São Pedro com ações de algumas Mercês de seu Pai. Vigário de Itamaracá.
Perfilhado nos livros de Sua Magestade. Comendador de Santa Eugénia Alla, que
vagou por falecimento de seu Pai João Francisco. Senhor
do engenho Inhaman;
02- D. Maria Joanna
– Filha natural de João Fernandes Vieira e de D. Cosma Soares.
C.c. Jeronymo Cesar de Mello Fidalgo da Casa Real, Cavalheiro da Ordem de
Cristo e Capitão-mor de Maranguape; filho de Agostinho Cesar de Andrada (Gov.
do Rio Grande do Norte) e de D. Laura de Mello;
03- D. Joaurza Fernandes Cesar –
C.c. Gaspar Achioli de Vasconcellos, Fidalgo Cavaleiro da Casa Real, filho
de João Baptista Achioli e de sua mulher D. Maria de Mello.
Alcaide-mor da cidade da Paraíba do Norte, e senhor do eng.
Santo Andre;
04- Maria de Arruda, falecida ainda criança.
Fontes:
BORGES DA FONSECA, Antônio José
Victoriano. Nobiliarquia Pernambucana. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de
Janeiro Anais 1885-1886 Vol. 13; 1902 Vol. 24; 1925 Vol. 47; 1926
Vol. 48
CALADO, Frei Manoel. O Valeroso
Lucideno e triunpho da liberdade, Edições Cultura, São Paulo, 1943, tomo I, p.
318 e tomo II, p. 12, 14
Diário de Pernambuco. Os Holandeses em
Pernambuco – Uma História de 24 anos. João Fernandes Vieira. Publicado em
22.09.2003.
Fontes para História do Brasil Holandês
– 1636, Willem Schott. A Economia Açucareira. Inventário feito pelo Conselheiro
Schott Cia. CEPE, MEC/SPHAN/Fundação Pró-Memória Local: Recife, 1981
Francisco Adolpho de Varnhagen, E. e H.
Laemmert, 1857. Historia geral do Brazil, Volume 2.
GASPAR, Lúcia. João Fernandes
Vieira. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco,
Recife. Disponível em: http://basilio.fundaj.gov.br
MELLO, Evaldo Cabral de. O Bagaço de
Cana: os engenhos de açúcar do Brasil holandês. Edt. Penguim &
Companhia das Letras.1ª edição. São Paulo, 2012. Pág. 74.
MELLO, José Antônio Gonsalves de. Restauradores
de Pernambuco: biografias de figuras do século XVII que defenderam e
consolidaram a unidade brasileira: João Fernandes Vieira. Recife: Imprensa
Universitária, 1967. 2
Revista do Instituto Arqueológico,
Histórico e Geográfico de Pernambuco. Vol. LVI. Recife, 1981.
Revista do Instituto Archeológico e
Geográphico de Pernambco. Volume 1, Edições 1-12
SANTIAGO, Diogo Lopes, História da
Guerra de Pernambuco, Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de
Pernambuco, Recife, 1984, p. 258
Francisco Berenguer de Andrade (II) – Filho de uma das
pessoas mais importantes da época o Coronel Francisco Berenguer de Andrade
(Fidalgo da Ilha da Madeira, Cavaleiro da Ordem de Cristo, Coronel. Juiz de
Órfãos) e de sua segunda esposa D Antônia Bezerra. Neto materno de Antônio Bezerra
e Izabel Lopes. Irmão por parte de pai de Maria Cesar que c.c. João Fernandes
Vieira. Cavaleiro da Ordem de Cristo. Capitão-mor de Igarassu. (s.g.)
CURIOSIDADES: Segundo Borges da Fonseca existiram relatos que Francisco
Berenguer escrevera algumas anotações genealógicas sobre as famílias
pernambucanas que viveram no seu tempo, em torno de 1686, de tal maneira
indiscreta, que foi queimada pelo seu primo Antônio Ribeiro de Lacerda, por não
concordar com que estava escrito sobre sua pessoa.
Senhor do
engenho Aiamã de Baixo/Igarassu; Tejipió/Tejipió-Recife
Fontes:
http://geneall.net/pt/nome/251097/francisco-berenguer-de-andrade/
Anais da Biblioteca Nacional do Rio de
Janeiro. Anais 1902 Vol 24 (1), pág. 218; 1903 Vol 25 (1), pág. 99.
BORGES DA FONSECA, Antônio José
Victoriano. Nobiliarquia Pernambucana. Anais 1926 Vol 48 (5), pág. 06, 234, 236,
244
MELLO, Evaldo Cabral de. O Bagaço de
Cana: os engenhos de açúcar do Brasil holandês. Edt. Penguim &
Companhia das Letras.1ª edição. São Paulo, 2012. Pág. 74.
MELLO, Evaldo Cabral de. O Nome e o
Sangue. Edt. Companhia de Bolso. São Paulo, 2009. Pág. 26, 30, 77, 132, 146-7.
2 comentários:
O artigo lincado abaixo é interessante para compreender a dinâmica atual do bairro: http://www.revista.ufpe.br/rbgfe/index.php/revista/article/viewArticle/1435
O artigo lincado abaixo é interessante para compreender a dinâmica atual do bairro: http://www.revista.ufpe.br/rbgfe/index.php/revista/article/viewArticle/1435
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