Ilha de Itamaracá |
A Ilha de Itamaracá - Capitania de Itamaracá, já era habitada 09 anos antes do descobrimento do Brasil, de acordo com o 1º Processo Judicial no Tribunal Francês de Bayone/França, sobre os crimes praticados no navio “La Pélerino”, onde podemos constatar que nessa época moravam na Ilha náufragos, que possuíam casas de alvenaria. Há também documentos que registram a passagem pela Ilha dos portugueses: João Coelho da Porta da Cruz e Duarte Pacheco Pereira, em 1493 e 1498, respectivamente.
D. Manuel I, o Valeroso |
O
Rei Dom Manuel I, de Portugal, em 1516, adotou o sistema de capitanias de mar e
terra, que tinha tempo determinado de exploração. Na costa do Brasil foram
outorgadas as primeiras dessas capitanias a FERNÃO DE NORONHA (Ilha de Fernando
de Noronha) e a PEDRO CAPIDO (em Pernambuco), por dez anos. Nessa mesma época ocorre
a primeira tentativa de colonização metódica e aproveitamento da terra com base
na plantação da cana (trazida da Ilha da Madeira ou de Cabo Verde) e na
fabricação do açúcar. Para isso o Rei expediu dois alvarás que instruía que se
procurassem práticos para instalação de engenhos e lhes dessem todo tipo de
ajuda para este fim.
Pedro
Capito aproveitando a vinda de Cristóvão Jacques para o Brasil a fim de
combater os piratas franceses chega a Pernambuco e assim que aporta começa o
plantio da cana de açúcar e depois constrói um
engenho para a extração do açúcar (1º engenho da
Capitania de Itamaracá e do Brasil).
Marco que Duarte Coelho Pereira mandou erguer para marcar a divisa entre as Capitanias de Pernambuco e Itamaracá. |
Dez
anos depois (1526) no Livro da Casa da Índia da Alfândega de Lisboa/PT, o
engenho de açúcar de PEDRO CAPIDO aparece como contribuinte sobre a produção de
açúcar fabricado na Ilha de Itamaracá/PE. Esse documento vem comprovar que a
primeira fábrica de açúcar foi construída na Capitania de Itamaracá/PE,
destruindo o que escreveu frei Gaspar da Madre de Deus e outros escritores,
quando dizem que o açúcar brasileiro foi extraído primeiramente na Capitania de
São Vicente. Na verdade a cana-de-açúcar só vem a ser plantada na Capitania de
São Vicente, entre 1533 e 1534, quando foi firmado um contrato social entre
Martim Afonso e seu irmão Pero Lopes de Souza, como se refere Dr. Freire
Alemão, com João Vicente Veniste, Francisco Lobo e Vicente Gonçalves para a construção
de 02 engenhos, sendo um em São Vicente (engenho São Jorge) e outro na
Capitania de Itamaracá.
O
Brasil nesse período colonial se torna o polo de maior interesse dos
portugueses, pois os lucros com o comércio das Índias haviam desaparecido
através de construção de edifícios majestosos, presentes, sustentos da realeza.
Começa então a faltar recursos para construção de navios, organização e
manutenção das guarnições militares, o que leva o governo português a contrair
empréstimos junto a banqueiros.
Capitanias Hereditárias |
Sem recursos Portugal resolve
implantar o sistema de Capitanias Hereditárias para colonização do Brasil. O
Rei D. João III divide o Brasil em 15 lotes e os entrega a Donatários (pessoas
nobres ou que tivessem realizados serviços para o reino). Cabia ao donatário:
colonizar a capitania, fundar vilas, policiar as suas terras, proteger os
colonos contra os índios e piratas estrangeiros, fazer cumprir o monopólio real
do pau-brasil, , teria o direito de doar terras de sesmarias, escravizar
índios, montar engenhos de açúcar, fazer cumprir o monopólio real do pau-brasil
e do comércio colonial, cobrar impostos e exercer a justiça em seus domínios; caso fosse encontrado metais precisos, 1/5 do
valor seria enviado à Coroa. Em contrapartida a capitania seria passada para
seus herdeiros, por isso o nome de Capitania Hereditária.
Em 10.03.1534, a primeira capitania é doada ao militar DUARTE COELHO PEREIRA, pelos serviços
prestados ao Reino, através de carta de doação subscrita em Évora/PT no dia 25
do mesmo mês. A Capitania de Pernambuco ou Nova Lusitânia,
tinha 60 léguas de costa brasileira, incluindo os estados de: Alagoas,
Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e parte da Bahia. Duarte
Coelho que na época tinha 64 anos de idade, resolve partir para o Brasil, mesmo
podendo administrar a Capitania de Portugal, para isso, consegue ajuda dos
banqueiros: Fugger de Augsburg, através de seus prepostos, e dos primos Sibald
Linz von Dordorf e Christoph Lins (depois senhores de engenho).
Em 09.03.1535, Duarte
Coelho desembarca na Ilha às margens do Canal de Santa Cruz, onde havia um
núcleo de povoamento, depois conhecido como o Sítio dos Marcos, por conta do
marco fincado nesse lugar que indicava a fronteira entre a Capitania de
Itamaracá e a de Pernambuco. Em sua comitiva vieram: sua mulher D. Beatriz
(Brites) de Albuquerque, o seu cunhado Jerônimo de Albuquerque, parentes,
várias famílias “nobres do Norte de Portugal”, judeus especialistas na montagem
de engenhos de açúcar e feitores com experiência nas plantações da
cana-de-açúcar na Ilha da Madeira e em São Tomé, já que a Coroa portuguesa já
conhecia bastante a região para esperar que a cana-de-açúcar se desse bem, pois
o clima quente e úmido da costa lhe seria altamente favorável. Acompanhou-o,
por determinação de El-Rei, interessado na organização administrativa da
colônia, e na assistência espiritual aos que ali iam viver, o Feitor e
Almoxarife Real, Vasco Fernandes de Lucena, aquinhoado com dois por cento das
rendas que fossem arrecadadas, e mais um Vigário, que foi o Padre Pedro
Figueira, com quatro capelães, recebendo aquele um ordenado anual de quinze mil
réis, e os outros oito mil réis cada um. (GUERRA, 1984, p. 22).
Duarte Coelho Pereira |
Assim que Duarte Coelho e sua
comitiva desembarcaram, se instalaram em uma feitoria régia, fundada por
Cristóvão Jacques, para combater os piratas franceses e evitar o tráfico do pau-brasil. CURIOSIDADES: Na carta de doação da Capitania Hereditária, feita
por D. João III (1521-1557) a Duarte Coelho, existe a seguinte referência sobre
a feitoria existente na Ilha de Itamaracá: “Cristóvão Jacques fez a primeira
casa de minha feitoria a cinquenta passos da feitoria pelo rio adentro ao longo
da praia”. (Castro, 1940:130).
Na
feitoria existia uma fortaleza de pau a pique, para defesa dos habitantes locais,
mas tinha sido construída em um local muito baixo e sujeito a inundações, o que
facilitava ataques dos índios. Por esses e outros motivos Duarte Coelho seguiu
para o Sul da Capitania à procura de um local seguro para instalar a sede de
seu governo (Olinda), dando ordem ao seu Lugar-Tenente Afonso Gonçalves,
companheiro de suas viagens à Índia, para que comandasse uma expedição à
procura de água e de um lugar para construção de uma Vila e de um engenho de
açúcar.
Em 08/08/1535, dia de São Domingos,
o Capitão partiu navegando pelo Rio Jussara (depois São Domingos) e até a
região onde hoje se encontra o município de Igarassu ocorrem diversas batalhas
com os índios Caetés, aliados dos piratas franceses que queriam expulsar os
portugueses. No dia 27.09 do mesmo ano, o Capitão consegue vencer uma batalha e
em comemoração, manda construir uma capela que dedicou aos Santos Cosme
e Damião, a primeira do Brasil – ainda hoje existente, e no seu entorno funda uma
povoação com o mesmo nome, depois Igarassu.
Para
o povoamento da vila, Afonso Gonçalves mandou vir de Viena/PT vários de seus
parentes com suas famílias, muitos deles pobres, que começaram logo a trabalhar,
plantando lavouras de sustento e cana de açúcar. Rapidamente a Vila se torna
uma grande e abastada aldeia, que enfrenta larga resistência, combates e
pelejas com os indígenas locais.
O engenho logo foi construído e
ficou sendo conhecido como o engenho do Capitão. Pereira da Costa cita a
construção do engenho dos Capitão nos Anais Pernambucanos: Para a
nascente vila mandara ele vir de Viana seus parentes, -”que tinha muitos
e muitos pobres, os quais vieram logo com suas mulheres e filhos e começaram a
lavrar a terra entre os mais moradores, que já havia, plantando mantimentos e
canas de açúcar, para o que começara já o Capitão a fazer um engenho.” (COSTA,
1983, p. 250).
Igarassu |
Em 1536, Jerônimo de Albuquerque,
irmão de D. Beatriz (Brites) de Albuquerque c.c. o Donatário Duarte Coelho
Pereira, funda em uma sesmaria recebida do Donatário, o engenho Nossa Senhora da Ajuda/Olinda.
Numa carta ao Rei de Portugal D.
João III em 05.1548, Afonso Gonçalves pedia ajuda para manutenção da capela, do
povoado dos Santos Cosme e Damião em Igarassu que ele fundara e para combater
as constantes investidas dos índios Caetés que continuavam as guerras para
expulsão dos portugueses. Em uma dessas batalhas os indígenas cercaram Igarassu
por vários meses, e em um dos combates o Capitão Afonso Gonçalves foi ferido
mortamente por uma flechada. Em socorro a Igarassu, Duarte Coelho contratou um
navio bombardeio sob o comando do alemão Hans Staden. O conflito findou com a
derrota dos índios que foram obrigados a fugir.
Em 1539 e 1542, Duarte Coelho
escreve ao Rei pedindo permissão para buscar escravos de Guiné/África, pois os
índios não deram para o trabalho escravo.
No ano de 1542 o Donatário constrói
o engenho São
Salvador, depois Beberibe/Recife, o segundo engenho que se tem
notícias da Capitania de Pernambuco. Suas terras ficavam localizadas a uma
légua de Olinda, na margem direita do Rio Beberibe, que nasce em Camaragibe. A
casa de vivenda campeava junto ao rio, à direita da ponte do Varadouro/Olinda,
e a pouca distância, para o Norte, na entrada da rua foi situado o edifício da
fábrica, ficando de permeio a capela da fazenda, sob a invocação de Nossa
Senhora da Conceição, porém mais afastada, para Oeste; de forma que se traçando
uma linha de união entre as construções, teríamos um triângulo perfeito.
Engenho para beneficiamento da cana de açúcar |
Atualmente não resta mais nada do
engenho e suas terras foram reocupadas pela zona urbana do bairro do
Cajueiro/Recife. NOTA: O primeiro engenho pernambucano foi fundado em
Igarassu e se chamava engenho do “Capitão”, construído pelo Capitão Afonso
Gonçalves a mando de Duarte Coelho, mas teve uma existência curta devido aos ataques
indígenas. NOTA: Pereira da Costa associa o engenho Eenkalchoven, ao engenho
São Salvador, e (Gonsalves de Mello, 1976), pg. 32, o associa, acertadamente,
ao Engenho Velho de Beberibe, sob invocação de Nossa Senhora da Ajuda, o 'N S ᵭ
Aiuda' do BQPPB*.
Levantada as edificações do engenho
e plantado os canaviais, começaram logo a afluir diversos moradores, que
obtiveram a concessão de lotes de terras para da lavoura de cana, dentre os
quais temos notícias de um Francisco
Barbosa c.c. Maria
de Oliveira. NOTA: Nélson Barbalho em sua “Cronologia Pernambucana
V. 05 – parte 02”, diz que Francisco Barbosa e de Maria de Oliveira, foram
um dos primeiros casais que chegaram com o 1º Donatário, e que levantado o
engenho Beberibe se tornaram um dos primeiros lavradores, depois que obtiveram
a concessão de um lote de terra para a cultura da cana de açúcar. CURIOSIDADES: Um
neto do casal Francisco Barbosa e Maria de Oliveira, o Capitão João de Freitas
da Cunha foi um militar distinto, nascido em terras do engenho Beberibe,
exerceu o cargo de Capitão-mor do Ceará, entre 1696 e 1699, depois
sucessivamente foi nomeado Sargento-mor de um Terço da Guarnição de Pernambuco
e promovido a mestre-de-campo comandante de um terço, falecendo entre 1711 e
1712.
D. João III - o Piedoso |
No
anto de 1546, tendo sido atendido por D. João III no sentido de trazer escravos
africanos, o Donatário escreve outra vez ao Rei, para avisá-lo sobre a remessa
de uma “caixa com mostra de açúcares
escolhidos para V.M. ver....” Com esse ato foi consolidado o poder do Donatário
Duarte Coelho obtendo de Portugal o privilégio de ficar isento da jurisdição do
1º Governador Geral do Brasil Tomé de Souza.
Nesse contesto da indústria
canavieira do Brasil colônia, se deve a Duarte Coelho o cultivo da cana de
açúcar e a qualidade do açúcar fabricado em Pernambuco. Em 1549,
Pernambuco já possuía 30 engenhos-banguê; a Bahia, 18; e São Vicente, 02.
A lavoura da cana-de-açúcar era próspera e, meio século depois, a distribuição
dos engenhos perfazia um total de 256 engenhos.
Pernambuco,
a mais rica das Capitanias durante o ciclo da cana-de-açúcar, impressionara o
Padre Fernão Cardim, que escreveu: "as fazendas maiores e mais ricas que as da Bahia, os banquetes de
extraordinárias iguarias, os leitos de damasco carmesim, franjados de ouro e as
ricas colchas da Índia", e resumiu suas impressões numa frase
antológica: "Enfim, em Pernambuco
acha-se mais vaidade que em Lisboa". A opulência pernambucana parecia
decorrer, como sugere Gabriel Soares de Sousa em 1587, do fato de,
então, ser a capitania "tão poderosa
(...) que há nela mais de cem homens que têm de mil até cinco mil cruzados de
renda, e alguns de oito, dez mil cruzados. Desta terra saíram muitos homens
ricos para estes reinos que foram a ela muito pobres".
Por
volta do início do século XVII, Pernambuco junto com a Capitania de São Vicente
espalharam por todo o Brasil, a cultura da cana de açúcar
e do seu aproveitamento na fabricação do açúcar e seus derivados. Dessas duas
capitanias se espalhou o canavial para as demais regiões brasileiras, onde
existia terras apropriadas e clima propício floresceram as várias espécies da
doce gramínea trazida pelos portugueses.
Fontes:
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Mendes de Albuquerque.
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Igarassu (1828 A 1877). Especialista em Ensino de História pela UFRPE
ZÚQUETE, Afonso Eduardo Martins.
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