O Alcaide-mor de Olinda Vasco
Fernandes de Lucena (de
Azevedo), c.c. D. Brites Dias Correa, recebeu em 1540 uma sesmaria, que lhe foi doada pelo Donatário Duarte Coelho
Pereira, localizada na margem esquerda do Rio Aiamã (Arroio Caité), sob a
jurisdição da Vila Velha de Igarassu/Capitania de Pernambuco. Nessa sesmaria Vasco
Fernandes construiu o engenho Aiamá
(Aiama; Anjama, Aniama) ou Aiama da Riba (1548), com moenda movida à água e igreja
dedicada aos Fiéis de Deus.
![]() |
Brasão da família Lucena |
O engenho Aiama
foi várias vezes destruído pelos índios Caetés*. Em 1550, o Donatário Duarte
Coelho escreveu uma carta ao Rei informando que o engenho estava em pleno
funcionamento. Esta informação é confirmada em documentos sobre alguns pagamentos feitos por Vasco Fernandes (1552), pelos serviços prestados por um carpinteiro
em sua “Ribeira”, entre 1550 e 1551; e pela compra de material de construção,
em 1552, "para obras de Sua Alteza".
Quando a produção de açúcar começa a
desempenhar um papel de destaque na economia colonial brasileira, a Coroa portuguesa para incentivar a
manutenção e a construção novos engenhos de açúcar, concedeu aos colonos (1560) a isenção do pagamento dos impostos da
dízima e da sisa (20%) durante o prazo de 10 anos, findo os quais passariam a
pagar a “meia liberdade” (10%), limitada ao decênio consecutivo.
No ano de 1593, Francisco Fernandes de Lucena, filho de Vasco
Fernandes de Lucena, aparece como proprietário do engenho Aiama da Riba.
Em 1609, o engenho pertencia a Estêvão Gomes, Escrivão da Fazenda Real em Pernambuco.
No ano de 1623 o engenho moeu cerca de 2.847 arrobas de açúcar e
pertencia a Pero da Rocha
Leitão, que foi enforcado na Fortaleza do Bom Jesus do Arraial ou Forte Real do Bom Jesus/Recife, a mando do Capitão André Marim, uma vez que foi
comprovado o fato de que tinha ligação com os holandeses.
![]() |
Plantação de cana-de-açúcar |
Conforme dois
documentos holandeses: Breve Discurso sobre o Estado das quatro Capitanias
Conquistadas (1638) e o Relatório sobre o Estado das Capitanias Conquistadas
(1639), em 27/03/1635, o engenho Aiamá passa
a pertencer aos herdeiros de Pero (ou Pedro) da Rocha Leitão,.
O engenho Aiamá não tinha partido de fazenda e contava
com 09 lavradores, num total de 56 tarefas (2.800 arrobas): Antônio
Saraiva,
com 07 tarefas; Estevão do Prado Leão, com 07 tarefas; Francisco Bernardes da Rocha,
com 10 tarefas; Francisco Coelho, com 06 tarefas; Geraldo do Prado Leão,
com 15 tarefas; Luís da Mota, com 02 tarefas; Paula d'Almeida, com 03
tarefas; Simão Dias Rodrigues, com 02 tarefas; e Simão Furtado, com 04
tarefas.
Durante a guerra contra os holandeses o Capitão Estêvão de Tavares fez investidas nos engenhos de Pedro da Rocha Leitão, Pero Lopes Veras, Domingos da Costa Brandão, Gonçalo Novo e o de Cosme Dias da Fonseca, que se encontrava abandonado. Destruíram todos os açúcares produzidos e queimaram os canaviais. Segundo Evaldo Cabral de Mello estas perdas e a pouca segurança nos engenhos levaram os senhores de engenhos a esperarem o socorro o mais rápido possível para voltarem a moer a canas-de-açúcar em suas fábricas.
Durante a guerra contra os holandeses o Capitão Estêvão de Tavares fez investidas nos engenhos de Pedro da Rocha Leitão, Pero Lopes Veras, Domingos da Costa Brandão, Gonçalo Novo e o de Cosme Dias da Fonseca, que se encontrava abandonado. Destruíram todos os açúcares produzidos e queimaram os canaviais. Segundo Evaldo Cabral de Mello estas perdas e a pouca segurança nos engenhos levaram os senhores de engenhos a esperarem o socorro o mais rápido possível para voltarem a moer a canas-de-açúcar em suas fábricas.
Uma dessas
investidas foi feita por Francisco de Almeida, a mando de Mathias de
Albuquerque, que ordenou que o batalhão seguisse imediatamente para Itamaracá, reunindo
gente no caminho, e lutasse contra os holandeses. Francisco perseguiu os
invasores até cerca de meia hora acima de Igarassu, junto ao engenho Aiamá,
onde o caminho era muito estreito e obstruído por todos os lados, com árvores
derrubadas, de maneira que o inimigo tinha grande vantagem. Os portugueses
atacaram furiosamente, por todos os lados, abatendo-lhe em grande número, e
apanharam muitos mosquetes abandonados, que fizeram em pedaços.
O engenho Aiama da Riba começou a ser
reparado pelos herdeiros de Pero da Rocha, e para isso pediram um empréstimo à
Companhia das Índias Ocidentais holandesa, tanto é que em 1645, deviam 1750
florins à WIC, e em 1663 esse montante já estava em 4.900 florins.
![]() |
João Fernandes Vieira |
Em 1646, todos os
residentes do engenho Aiamá tiveram que ser
evacuados, quando da retirada da população residente em Olinda e no Rio
Grande do Norte, pelo Comando do Exército luso-brasileiro.
No século XVII o engenho Aiama da Riba foi citado nos mapas: Præfecturæ
Paranambucæ pars borealis, una cum Præfectura de Itâmaracâ; Mapa IT
(IAHGP-Vingboons, 1640) #43 Capitania de Itamarica - plotado como 'Ԑ. Anjama',
na m.e. 'R. Anjama'; Mapa IT (Orazi, 1698) Provincia di Itamaracá, plotado como
'E Aniama', na m.e. do 'R Aniana'; e Mapa PE (Orazi, 1698) Provincia di
Pernambvco, plotado, sem nome, na m.e. do 'Guiarare', afluente m.e. rio
'Aiama'.
No ano de 1655, após a Restauração Pernambucana, João Fernandes Vieira adquire o engenho em leilão público,
mas no mesmo ano o revendeu a Pedro
Monteiro de Queiroz (nada
foi encontrado)
Hoje não mais existe vestígio
do engenho e suas terras estão localizadas na área urbana do bairro Cruz de
Rebouças/Igarassu-PE.
Fontes:
Arch. de Haya. Publicado na Revista do Instituto Archeológico e
Geográfico Pernambucano. Dezembro de 1887 – Nº 34 - Recife - Typographia
Universal, 1887 – Pág. 141 a 196L
BORGES DA FONSECA,
Antônio José Victoriano. Nobiliarquia Pernambucana. Anais da Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro Anais 1962 Vol 82 (12), pag 23
BREVE DISCURSO -
Sobre o estado das quatro capitanias conquistadas de Pernambuco, Itamaracá,
Paraíba e Rio Grande situadas na parte setentrional do Brasil.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Arraial_Velho_do_Bom_Jesus
MELLO, Evaldo
Cabral de. O Bagaço de Cana: os engenhos de açúcar do Brasil holandês. Edt.
Penguim & Companhia das Letras.1ª edição. São Paulo, 2012
______________________ O Brasil Holandês. Edt. Companhia das Letras
2010 – pág 512.
Mello Moraes, Basto
(Marquez de.),Ignacio Accioli de Serqueira e Silva. Typ. de M.
Barreto, 1855 - pág 164. Memorias diárias da guerra do Brasil por espaço
de nove annos: começando em
1630 deduzidas das que escreveu o Marquez de Basto, conde e senhor de
Pernambuco. Por Alexandre José
PEREIRA, Levy.
"Engenho de roda d'água". In: BiblioAtlas - Biblioteca de Referências
do Atlas Digital da América Lusa. Disponível em: http://lhs.unb.br/biblioatlas/Engenho_de_roda_d%27%C3%A1gua. Data de acesso:
15 de junho de 2014.
PROPRIETÁRIOS:
1540 -Vasco
Fernandes de Lucena (de Azevedo) – Cristão-velho. Nascido em
Portugal e falecido no séc. XVI/Pernambuco.
Filho de Sebastião de Lucena e de D. D.
Maria de Vilhena. Neto materno e Diogo de Azevedo (senhor donatário
da vila de São João de Rei/Braga. Chamado vulgarmente fidalgo da
Tapada). Primeiro Alcaide-mor de Pernambuco. Cavaleiro da Ordem de
Cristo. Feitor e Almoxarife de Fazenda Real em Pernambuco. Versado na língua
brasílica.
Pereira da Costa
descreve Vasco de Lucena como de origem fidalga e um dos mais conceituados
colonos pernambucanos, que chegara com o 1º Donatário Duarte Coelho Pereira
(09/03/1535), com o despacho de Feitor e Almoxarife da Fazenda Real em
Pernambuco, trazendo sua mulher D. Brites Dias Correia.
Como Alcaide-mor
de Olinda o Donatário escreveu uma carta dirigida ao Rei, em 22/03/1548,
dizendo que Vasco de Lucena era "um
funcionário cumpridor dos seus deveres, homem de bem e de boa consciência,
tendo sempre dado boa conta de si".
Segundo Vicente do
Salvador, Vasco Fernandes de Lucena se afeiçoara a filha de um principal dos
índios, com quem tivera filhos. Vasco Fernandes era tão bem temido e estimado
entre os gentios, que o principal se tinha se sentia honrado em tê-lo por
genro, pois o consideravam um grande feiticeiro.
Ainda sobre Vasco
Fernandes de Lucena encontramos honrosa menção nas cartas de brasão de armas
conferidas a dois de seus descendentes, a primeira a 06/05/1790, a Teodoro
Correia de Azevedo Coutinho, e a segunda em 20/09/1800 em favor de Manuel
Correia de Faria, ambos do Estado do Maranhão. Na primeira das referidas cartas
se lê o seguinte: "Vasco Fernandes de Azevedo Lucena, fidalgo da casa
real, foi um dos primeiros descobridores e povoadores de Pernambuco, que pelos
grandes serviços que fêz naquele Estado para estender a sua povoação, que tôda
se deveu ao seu valor e atividade, como faz memória o Padre Frei Agostinho de
Santa Maria, Santuário Mariano, Tomo IX pag. 306, se lhe fêz mercê da
alcaidaria-mor de Pernambuco”.
CURIOSIDADES: Em
torno dele foi criado um mito: no momento da disputa pela preferência, quando
os índios cercaram os colonos, Lucena teria discursado para a tribo, pedindo a
adesão a Portugal e ameaçando os que preferiam os franceses com a morte, caso
ousassem atravessar um risco que traçou no chão com a espada. Cinco teriam
tentado e morrido fulminados por um raio. Por causa do milagre, o risco que
traçou teria sido usado como base para a construção da principal igreja
de Olinda. No lugar em que Vasco de Lucena fez o dito risco foi erguida depois
a Igreja Matriz de Olinda, hoje a Igreja da Sé.
CURIOSIDADES: No
ano de 1540 foi realizada uma demarcação judicial das terras de Jaguaribe, conferidas a Vasco
Fernandes de Lucena, por carta do donatário Duarte Coelho, lavrada em
24/07/1540, e procedida em virtude de despacho do Desembargador Antônio Salema,
Ouvidor Geral do Brasil, então em Pernambuco no desempenho do seu cargo, a
requerimento dos herdeiros das ditas terras, D. Beatriz Dias, viúva de Vasco
Fernandes, de seus filhos Sebastião e Francisco
Fernandes de Lucena, e D. Clara
Fernandes, representada por seu marido, Cristóvão Queixada. Nessas terras
existia então um engenho, sem dúvida levantado por Vasco Fernandes, uma vez que
isto pretendendo, solicitou um auxílio régio, que é assim recomendado pelo
donatário Duarte Coelho, em carta dirigida a d. João III, em 22/03/1548: -
"por êle querer fazer um engenho em uma ribeira, e em um pedaço de
terra que lhe dei, pede a V. Alteza por ajuda de o fazer, lhe faça mercê de lhe
dar licença para poder mandar algum brasil de cá para isso, o que irá fazer à
costa onde não faça dano nem prejuízo, certo, Senhor, que êle disso e de tôda
outra mercê e merecedor e a mim, Senhor, a fará fazendo a êle, pois a mercê, e
êle escreve a V.Alteza sôbre isso por um seu filho". As referidas terras, bem como outras
também situadas em Jaguaribe, passaram depois ao patrimônio do mosteiro de S.
Bento, de Olinda, por doação ou venda, como sejam: - 400 braças de terra em
quadro, doadas a Vicente Fernandes pelo donatário Duarte Coelho de Albuquerque,
por carta de 20/08/1566, e posteriormente vendidas ao mosteiro.
Senhor do engenho Aiamã de Riba/Igarassu e do
Jaguaribe/Olinda (1540).
Relacionamento 01: (?) – Índia Tabajara.
(c.g. desconhecida).
C01: D. Brites Dias Correa, nascida em
Portugal, filha de João Correa, o Português, e de D.
Leonarda Ignez. Neto materno de João Correa (senhor da Torre do
Ladrâo Gaiâo/Leiria). Tanto a sua família materna e paterna eram Fidalgos
da Casa Real. Filhos:
01- Francisco Fernandes de Lucena – Sucessor de seu pai no eng.
Aiamã. (c.g);
02- Sebastião Lucena de Azevedo,
nascido em Portugal, Comendador de Santa Maria de Matta de Lobos e Guarda-mor
de Lisboa, no tempo da peste. C.c. D. Jerônima de Mesquita, filha de Thomé
Borges de Mesquita e de Catharina Pinhel. (c.g);
03- Clara Fernandes de Lucena –
Nascida em Portugal. C.c. Cristóvão Queixada, Cavaleiro castelhano, do casal
procede os “Queixadas” da Paraíba, que em 1748 se achavam em decadência, mas
neste ramo houve vários sacerdotes do Hábito de São Pedro. (c.g);
Fontes:
Anais da
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro 1902. Anais 1902 Vol 24 (1). Anais 1903
Vol 25 (1).
Archivo
heraldico-genealogico contendo noticias historicoheraldicas. Por Augusto Romano Sanches de
Baena e Farinha de Almeida Sanches de Baena (Visconde de) Typographia universal
de T. Q. Antunes, 1872
Borges da Fonseca,
Antônio Victorino. Nobiliarquia Pernambucana. Rio de Janeiro, 1935. Anais 1925
Vol 47 (2). Anais 1926 Vol 48 (2).
Guerra, Lucia
Pereira de Lucena. Da cidade de Lucena, Espanha ao Brasil. Disponível em:
http://www.brasa.org/Documents/BRASA_IX/Lucia-Guerra.pdf
Lisboa, Balthazar da Silva. Annaes do Rio de Janeiro: contendo a
descoberta e conquista deste ..., Vol. V. Typ. Imp. e Const. de
Seignot-Plancher, 1835
MELLO, Evaldo
Cabral de. O Bagaço de Cana: os engenhos de açúcar do Brasil holandês. Edt.
Penguim & Companhia das Letras.1ª edição. São Paulo, 2012.
PAES BARRETO,
Carlos Xavier. Primitivos Colonizadores Nordestinos. Usina de Letras. 2ª edição
revista. Rio de Janeiro, 2010.
Pergunte a Pereira
da Costa. Vol: 1. Ano: 1493 Pág: 404. Disponível em: http://www.liber.ufpe.br
______________________.
Vol: 3. Ano: 1637. Pág: 212, 213. Disponível em: http://www.liber.ufpe.br
1593 - Francisco Fernandes de
Lucena – Filho de Vasco Fernandes de
Lucena e de D. Beatriz Dias.
Senhor do engenho: Aimã de Riba/Olinda (1593)
C01: (?) Filhos :
01- Maria de Lucena – C.c. Antônio da Costa
Feio;
01- Beatriz de Lucena – C.c. Miguel Pires
Landim (mameluco)
Fontes:
http://marcosfilgueira.wikidot.com/ascendente-pela-familia-lucena
MELLO, Evaldo
Cabral de. O Bagaço de Cana: os engenhos de açúcar do Brasil holandês. Edt.
Penguim & Companhia das Letras.1ª edição. São Paulo, 2012.
1602 - Estevão Gomes – Escrivão da Fazenda Real em Pernambuco. (nada mais foi
encontrado)
Senhor do engenho
Aiamã de Riba/Olinda
Fontes:
MELLO, Evaldo
Cabral de. O Bagaço de Cana: os engenhos de açúcar do Brasil holandês. Edt.
Penguim & Companhia das Letras.1ª edição. São Paulo, 2012.
1623 -
Pero (ou Pedro) da Rocha Leitão –
Comandante de uma Companhia em Igarassu. No dia 27/03/1635, André Marin (ou Marinho), o Comandante do Arraial do Forte do Porto de
Nazareth, no Cabo de Santo Agostinho, mandou enforcar Pedro da Rocha Leitão e
Augustinho de Holanda por terem trocado cartas com o exército holandês.
Fontes:
PEREIRA, Levy.
"Engenho de roda d'água". In: BiblioAtlas - Biblioteca de Referências
do Atlas Digital da América Lusa. Disponível em: http://lhs.unb.br/biblioatlas/Engenho_de_roda_d%27%C3%A1gua. Data de acesso:
15 de junho de 2014.
Revista do
Instituto Archeológico e Geográphico Pernambucano, Edições 20-27. Recife, 1871
1635 - Herdeiros
de Pero da Rocha Leitão – Proprietários do
engenho a partir de 27/03/1635. No ano de 1645, deviam 1.750 florins à
Companhia das Índias Ocidentais holandesa e em 1663 a dívida estava em torno de
4.900 florins
Fontes:
PEREIRA, Levy.
"Engenho de roda d'água". In: BiblioAtlas - Biblioteca de Referências
do Atlas Digital da América Lusa. Disponível em: http://lhs.unb.br/biblioatlas/Engenho_de_roda_d%27%C3%A1gua. Data de acesso:
15 de junho de 2014.
1655 - João Fernandes Vieira – Nasceu em
29/06/1596-Funchal/Ilha da Madeira/PT e faleceu em 1679. Filho do fidalgo
Francisco de Ornelas Muniz com Antônia Mendes. Seu pai era bisneto de
Tristão Vaz, o primeiro donatário de Machico. Sua mãe era bisneta de Pedro
Vieira, morgado da Ribeira de Machico; entre os seus bisavôs se encontra
António Fernandes, sesmeiro nas Covas do Faial, no norte da ilha da Madeira. Em
1606, com 10 anos de idade, Fernandes Vieira imigrou para a Capitania de
Pernambuco, pois como não era o filho primogênito - herdeiro de todo o legado
dos pais, se viu obrigado a emigrar para o “Além-Mar”, para adquirir fortuna,
como muitos jovens portugueses da época.
Assim que chegou a Pernambuco trocou o seu nome de Francisco de Ornelas
Moniz Júnior, para João Fernandes Vieira, um disfarce muito usado pela corrente
emigratória para o Brasil, pois queriam esconder sua origem nobre, para poderem
trabalhar escondidos em serviços braçais, uma desonra para a época. Seu
primeiro trabalho foi como ajudante de mascate, em troca de comida e morada;
depois foi auxiliar do mercador do comerciante Afonso Rodrigues Serrão,
que ao falecer o deixou como único herdeiro do seu negócio e de algumas casas
na Vila de Olinda.
Em 1630, com a
invasão holandesa João Fernandes Vieira se alistou como voluntário de guerra.
Em 1634, participou da resistência luso-brasileira no Forte de São Jorge.
Após 1635, Fernando Vieira tornou-se muito amigo e depois sócio do
Conselheiro Político da Companhia das Índias Ocidentais, Jacob Stachouwer, de
quem depois foi feitor-mor de seus engenhos: Ilhetas (Nossa Senhora de França,
ou Nossa Senhora de Guadalupe)/Serinhaém, Meio/Recife, Santana/Jaboatão dos
Guararapes. Nota: Em seu testamento Fernandes Vieira declarou sobre sua
aproximação com Stachouwer: “Declaro que no tempo dos holandeses por remir
minha vexação e viver mais seguro entre eles, tive apertada amizade com Jacob
Estacour, homem principal da nação flamenga, com diferença nos costumes, e com
ele fiz negócios de conformidade e por conta de ambos (...)”.
Nessa época Fernandes Vieira era descrito como um homem de aspecto
melancólico, testa batida, feições pontudas, olhos grandes, mas amortecidos, e
de poucas falas, exceto quando se ocupava de si, pois desconhecia a virtude da
modéstia. Ativo, ambicioso e inteligente, durante a trégua estabelecida entre
Portugal e a Holanda, estabeleceu ligações estreitas com os holandeses, o que
lhe proporcionou ascensão econômica e social.
Com a partida de Stachouwer e de seu sócio de Nicolaes de Rideer,
Vieira passou a lucrar com a administração dos engenhos e dos fundos do seu
amigo e benfeitor Stachouwer. Logo se apoderou das propriedades dos dois sócios,
os engenhos: Guerra/Cabo de Santo Agostinho, Ilhetas (Nossa Senhora de França
ou Nossa Senhora de Guadalupe)/Serinhaém, Meio/Recife, Santana/Jaboatão dos
Guararapes e Velho ou da Madre de Deus/Cabo de Santo; e assumiu os
débitos contraídos por Stachower e de Ridder na compra das propriedades à
Companhia das Índias Ocidentais (débito que nunca foi pago). Logo Fernandes Vieira
e se tornou um dos homens mais ricos da Capitania, proprietário de 16 engenhos
e de mais de 1.000 escravos.
Fernandes Vieira foi indicado Escabino de Olinda e do Recife
(07/1641 a 06/1642, sendo conduzido ao cargo de 1642/43). Escabino de Maurícia
(Recife) de 07/1641 a 06/1642, sendo conduzido ao cargo de 1642/43. Contratador
de dízimos de açúcar da Capitania de Pernambuco e de Itamaracá.
Representante dos luso-brasileiros da Várzea do Capibaribe na Assembleia
convocada pelo Conde Maurício de Nassau para assuntos do governo (1640). Mestre
de Campo do Terço de Infantaria de Pernambuco. Participou da defesa do Arraial
do Bom Jesus/Recife (1635), com apenas 22 anos. Fernandes Vieira levantou
em Olinda a Igreja de Nossa Senhora do Desterro, hoje conhecida por Santa
Thereza, onde antigamente funcionava o Colégio das Órfãs, antes dos Órfãos.
Embora fosse um dos mais importantes senhores de engenho da Capitania,
para ser incorporado à nobreza rural de Pernambuco, em razão de sua suposta cor
parda, de seu “defeito mecânico” (trabalhos manuais) e de sua “falta de
qualidade de origem”, teve que contrair matrimônio com uma moça pertencente a
uma das famílias mais importantes da Capitania. Com o casamento Fernandes
Vieira que já era colaborador e conselheiro em assuntos brasileiros do governo
holandês se tornaria, também um dos homens mais importantes da Capitania,
com apoio da comunidade luso-brasileira através do seu prestígio econômico
e social, e de doações para igrejas, confrarias e pessoas necessitadas.
Fernandes Vieira era um dos maiores devedores da Companhia das Índias
Ocidentais, com uma dívida estimada em 219.854 florins, que nunca foi paga,
pois alegou no seu Testamento que os chefes holandeses "são devedores
de mais de 100 mil cruzados (...) de peitas e dádivas a todos os governadores
(...) grandiosos banquetes que ordinariamente lhes dava pelos trazer
contentes".
Após a partida do Conde Maurício de Nassau (1644) Vieira viu a
intensificação da insatisfação do povo pernambucano, influenciado pelo seu
sogro e percebendo as vantagens econômica e social a serem alcançada com a
expulsão dos holandeses e da Companhia das Índias Ocidentais passou para o lado
dos Insurrectos pernambucanos.
Reúne-se com várias lideranças rurais nas matas do engenho
Santana, onde traçam os planos para expulsar os holandeses do Brasil. Como
contragolpe, lança a campanha de Restauração de Pernambuco, servindo-se da
mesma táctica manhosa dos inimigos e passa a circular nos dois lados:
holandeses e luso-brasileiros. Nessa mesma época os holandeses o chamam para
ser Agente de Negócios da Companhia e membro do seu Conselho Supremo, ficando
Vieira, conhecedor de todas as tramas e recursos.
João Fernandes Vieira escreve a D. João IV pedindo-lhe licença para
resgatar as Capitanias invadidas da mão dos usurpadores, ao que o Monarca se
opõe. Descobrindo os holandeses os seus intentos, atraíram-no ao Recife, mas
Vieira iludiu-os e pôs-se em campo, levantando a bandeira da Insurreição
Pernambucana – de fazenda em fazenda, de engenho em engenho incentivando a
revolução e declarando traidores os que não seguissem a sua causa. O Conselho
holandês põe a cabeça de Vieira em prêmio e em resposta Fernandes Vieira põe
preço a cabeça dos membros do Conselho e se torna um dos líderes da chamada
Insurreição Pernambucana e um dos heróis da Restauração de Pernambuco.
NOTA: Segundo José Antônio Gonçalves de Melo: A
insurreição de 1645 foi preparada por senhores de engenho, na sua maior parte,
devedores a flamengos ou judeus da cidade. Foi nitidamente um levante de elementos
rurais, no qual tomaram parte, negros escravos, lavradores, pequenos
proprietários de roças, contratadores de corte de pau-brasil, e outros.
Após a tomada do eng. Casa Forte, Vieira voltou com seus homens ao seu
engenho São João/Recife-Várzea do Capibaribe, e de lá iniciou um sistema
de estâncias militares, espécie de fortificações onde pudessem estar
seguros e guardar pólvora e munições de guerra. Vieira participa da guerra
contra os holandeses e, vence junto com sua tropa, a Batalha das Tabocas em
Vitória de Santo Antão/PE, em 03/08/1645, e a Batalha de Casa Forte/Recife,
junto aos heróis: André Vidal de Negreiros, Henrique Dias e Felipe Camarão, em
17/08/1645.
Com a Batalha dos Guararapes, sob o comando do General Barreto de
Meneses, em 19/04/1648 e 19/02/1649, os holandeses são finalmente vencidos e
expulsos de Pernambuco e, como recompensa pelos serviços prestados na guerra
João Fernandes Vieira é recompensado pelo Rei D. João IV com os cargos: de
Governador da Paraíba (1655/57), Capitão General do Reino de Angola (1658/61) e
Superintendente das Fortificações de Pernambuco e das Capitanias vizinhas, até
o Ceará, (1661/81).
Depois do tratado de paz entre Portugal e a Holanda (1661), Fernandes
Vieira figurava em 2º lugar na lista de devedores dos brasileiros à Companhia
das Índias Ocidentais, com o débito de 321.756 florins, cuja dívida nunca foi
paga.
Já idoso Fernandes Vieira encomenda ao Frei Rafael de Jesus um livro
sobre a sua vida, exaltando seus feitos, a exemplo do que Gaspar Barléu havia escrito
sobre o conde Maurício de Nassau, surgindo assim o Castrioto lusitano,
no qual o autor o compara ao príncipe guerreiro albanês Jorge Scanderberg
Castrioto, que lutou intensamente contra os turcos e a Sérvia pela recuperação
da Albânia, que havia sido anexada à Turquia. Vieira falece, com 85 anos de
idade, em 10/01/1681-Olinda, mas só em 1886 seus restos mortais foram
descobertos na capela-mor da igreja do Convento de Olinda. Em 1942, seus ossos
foram trasladados para a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres dos Montes
Guararapes, sendo depositados na parede da capela-mor, com uma inscrição
comemorativa.
Em 1664 o valor das contribuições dos escravos alforriados (pelas suas
várias modalidades) da finta paga pelos mestres, banqueiros e purgadores de
açúcar, era muito alta, fazenda dessas profissões uma categoria economicamente
importante, os quais às vezes se equiparavam, quando não sobrelevavam, em valor
de contribuição a muitos lavradores de canaviais. Segundo documentação
encontrada no Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa – Pernambuco, papéis
avulsos. Cx 5 o Gov. Fernandes pagava anualmente nas suas fazendas: Jaguaribem,
Maranguape, Salinas e Forno de Cal) o equivalente a 50$ (cinquenta mil réis).
Em 1664 o valor das contribuições dos escravos alforriados (pelas suas
várias modalidades) da finta paga pelos mestres, banqueiros e purgadores de
açúcar, era muito alta, fazenda dessas profissões uma categoria economicamente
importante, os quais às vezes se equiparavam, quando não sobrelevavam, em valor
de contribuição a muitos lavradores de canaviais. Segundo documentação
encontrada no Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa – Pernambuco, papéis
avulsos. Cx 5 o Gov. Fernandes pagava anualmente nas suas fazendas: Jaguaribem,
Maranguape, Salinas e Forno de Cal) o equivalente a 50$ (cinquenta mil réis).
Senhor dos
engenhos: Abiaí/Itamaracá; Guerra/Cabo
de Santo Agostinho; Ilhetas/Cabo de Santo Agostinho; Jacaré/Goiana; Meio/Recife-Várzea;
Molinote, ou Santa Luzia, depois Sacambu/Cabo de Santo Agostinho; Muribeca/Jaboatão
dos Guararapes; Nossa
Senhora de França, ou Nossa Senhora de Guadalupe/Serinhaém; Santana/Jaboatão
dos Guararapes; Santo André/Jaboatão dos Guararapes; Santo Antônio/Goiana; São
João (antes Nossa Senhora do Rosário)/Recife-Várzea; Tejipió/TEjipio-Recife (1655);
Velho ou da Madre de Deus/Cabo de Santo Agostinho. Na Paraíba: Inhaman,
Inhobim ou dos Santos Cosme e Damião, Gargaú e São Gabriel.
Tibiri de Baixo e Tibiri de Cima.
C01: D. Maria César, em 1643 – Filha do
madeirense e senhor de engenho Francisco Berenguer de Andrade (eng. Giquiá/Recife),
pessoa de boa estirpe perante o clã dos Albuquerque e de Joana de Albuquerque.
(s.g.)
Filhos fora do casamento:
01- Manuel Fernandes Vieira – Sacerdote do hábito de
São Pedro com ações de algumas Mercês de seu Pai. Vigário de Itamaracá.
Perfilhado nos livros de Sua Magestade. Comendador de Santa Eugénia Alla, que
vagou por falecimento de seu Pai João Francisco. Senhor
do engenho Inhaman;
02- D. Maria Joanna
– Filha natural de João Fernandes Vieira e de D. Cosma Soares.
C.c. Jeronymo Cesar de Mello Fidalgo da Casa Real, Cavalheiro da Ordem de
Cristo e Capitão-mor de Maranguape; filho de Agostinho Cesar de Andrada (Gov.
do Rio Grande do Norte) e de D. Laura de Mello;
03- D. Joaurza Fernandes Cesar –
C.c. Gaspar Achioli de Vasconcellos, Fidalgo Cavaleiro da Casa Real, filho
de João Baptista Achioli e de sua mulher D. Maria de Mello.
Alcaide-mor da cidade da Paraíba do Norte, e senhor do eng.
Santo Andre;
04- Maria de Arruda, falecida ainda criança.
Fontes:
BORGES DA FONSECA, Antônio José
Victoriano. Nobiliarquia Pernambucana. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de
Janeiro Anais 1885-1886 Vol. 13; 1902 Vol. 24; 1925 Vol. 47; 1926
Vol. 48
CALADO, Frei Manoel. O Valeroso
Lucideno e triunpho da liberdade, Edições Cultura, São Paulo, 1943, tomo I, p.
318 e tomo II, p. 12, 14
Diário de Pernambuco. Os Holandeses em
Pernambuco – Uma História de 24 anos. João Fernandes Vieira. Publicado em
22.09.2003.
Fontes para História do Brasil Holandês
– 1636, Willem Schott. A Economia Açucareira. Inventário feito pelo Conselheiro
Schott Cia. CEPE, MEC/SPHAN/Fundação Pró-Memória Local: Recife, 1981
Francisco Adolpho de Varnhagen, E. e H.
Laemmert, 1857. Historia geral do Brazil, Volume 2.
GASPAR, Lúcia. João Fernandes
Vieira. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco,
Recife. Disponível em: http://basilio.fundaj.gov.br
MELLO, Evaldo Cabral de. O Bagaço de
Cana: os engenhos de açúcar do Brasil holandês. Edt. Penguim &
Companhia das Letras.1ª edição. São Paulo, 2012. Pág. 74.
MELLO, José Antônio Gonsalves de. Restauradores
de Pernambuco: biografias de figuras do século XVII que defenderam e
consolidaram a unidade brasileira: João Fernandes Vieira. Recife: Imprensa
Universitária, 1967. 2
Revista do Instituto Arqueológico,
Histórico e Geográfico de Pernambuco. Vol. LVI. Recife, 1981.
Revista do Instituto Archeológico e
Geográphico de Pernambco. Volume 1, Edições 1-12
SANTIAGO, Diogo Lopes, História da
Guerra de Pernambuco, Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de
Pernambuco, Recife, 1984, p. 258
Um comentário:
Excelente trabalho, parabéns!!
Postar um comentário