Fontes

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01/08/2016

Engenho Aiamá (Aiama; Anjama, Aniama) ou Aiama da Riba/Igarassu

                O Alcaide-mor de Olinda Vasco Fernandes de Lucena (de Azevedo), c.c. D. Brites Dias Correa, recebeu em 1540 uma sesmaria, que lhe foi doada pelo Donatário Duarte Coelho Pereira, localizada na margem esquerda do Rio Aiamã (Arroio Caité), sob a jurisdição da Vila Velha de Igarassu/Capitania de Pernambuco. Nessa sesmaria Vasco Fernandes construiu o engenho Aiamá (Aiama; Anjama, Aniama) ou Aiama da Riba (1548), com moenda movida à água e igreja dedicada aos Fiéis de Deus.
Brasão da família
Lucena
O engenho Aiama foi várias vezes destruído pelos índios Caetés*. Em 1550, o Donatário Duarte Coelho escreveu uma carta ao Rei informando que o engenho estava em pleno funcionamento. Esta informação é confirmada em documentos sobre alguns pagamentos feitos por Vasco Fernandes (1552), pelos serviços prestados por um carpinteiro em sua “Ribeira”, entre 1550 e 1551; e pela compra de material de construção, em 1552, "para obras de Sua Alteza".
        Quando a produção de açúcar começa a desempenhar um papel de destaque na economia colonial brasileira, a Coroa portuguesa para incentivar a manutenção e a construção novos engenhos de açúcar, concedeu aos colonos (1560) a isenção do pagamento dos impostos da dízima e da sisa (20%) durante o prazo de 10 anos, findo os quais passariam a pagar a “meia liberdade” (10%), limitada ao decênio consecutivo.
No ano de 1593, Francisco Fernandes de Lucena, filho de Vasco Fernandes de Lucena, aparece como proprietário do engenho Aiama da Riba.
Em 1609, o engenho pertencia a Estêvão Gomes, Escrivão da Fazenda Real em Pernambuco. 

No ano de 1623 o engenho moeu cerca de 2.847 arrobas de açúcar e pertencia a Pero da Rocha Leitão, que foi enforcado na Fortaleza do Bom Jesus do Arraial ou Forte Real do Bom Jesus/Recife, a mando do Capitão André Marim, uma vez que foi comprovado o fato de que tinha ligação com os holandeses.
Plantação de cana-de-açúcar
Conforme dois documentos holandeses: Breve Discurso sobre o Estado das quatro Capitanias Conquistadas (1638) e o Relatório sobre o Estado das Capitanias Conquistadas (1639), em 27/03/1635, o engenho Aiamá passa a pertencer aos herdeiros de Pero (ou Pedro) da Rocha Leitão,.
O engenho Aiamá não tinha partido de fazenda e contava com 09 lavradores, num total de 56 tarefas (2.800 arrobas): Antônio Saraiva, com 07 tarefas; Estevão do Prado Leão, com 07 tarefas; Francisco Bernardes da Rocha, com 10 tarefas; Francisco Coelho, com 06 tarefas; Geraldo do Prado Leão, com 15 tarefas; Luís da Mota, com 02 tarefas; Paula d'Almeida, com 03 tarefas; Simão Dias Rodrigues, com 02 tarefas; e Simão Furtado, com 04 tarefas.
Durante a guerra contra os holandeses o Capitão Estêvão de Tavares fez investidas nos engenhos de Pedro da Rocha Leitão, Pero Lopes Veras, Domingos da Costa Brandão, Gonçalo Novo e o de Cosme Dias da Fonseca, que se encontrava abandonado. Destruíram todos os açúcares produzidos e queimaram os canaviais. Segundo Evaldo Cabral de Mello estas perdas e a pouca segurança nos engenhos levaram os senhores de engenhos a esperarem o socorro o mais rápido possível para voltarem a moer a canas-de-açúcar em suas fábricas.
Uma dessas investidas foi feita por Francisco de Almeida, a mando de Mathias de Albuquerque, que ordenou que o batalhão seguisse imediatamente para Itamaracá, reunindo gente no caminho, e lutasse contra os holandeses. Francisco perseguiu os invasores até cerca de meia hora acima de Igarassu, junto ao engenho Aiamá, onde o caminho era muito estreito e obstruído por todos os lados, com árvores derrubadas, de maneira que o inimigo tinha grande vantagem. Os portugueses atacaram furiosamente, por todos os lados, abatendo-lhe em grande número, e apanharam muitos mosquetes abandonados, que fizeram em pedaços.
O engenho Aiama da Riba começou a ser reparado pelos herdeiros de Pero da Rocha, e para isso pediram um empréstimo à Companhia das Índias Ocidentais holandesa, tanto é que em 1645, deviam 1750 florins à WIC, e em 1663 esse montante já estava em 4.900 florins.
João Fernandes Vieira
Em 1646, todos os residentes do engenho Aiamá tiveram que ser evacuados, quando da retirada da população residente em Olinda e no Rio Grande do Norte, pelo Comando do Exército luso-brasileiro.
No século XVII o engenho Aiama da Riba foi citado nos mapas: Præfecturæ Paranambucæ pars borealis, una cum Præfectura de Itâmaracâ; Mapa IT (IAHGP-Vingboons, 1640) #43 Capitania de Itamarica - plotado como 'Ԑ. Anjama', na m.e. 'R. Anjama'; Mapa IT (Orazi, 1698) Provincia di Itamaracá, plotado como 'E Aniama', na m.e. do 'R Aniana'; e Mapa PE (Orazi, 1698) Provincia di Pernambvco, plotado, sem nome, na m.e. do 'Guiarare', afluente m.e. rio 'Aiama'.
No ano de 1655, após a Restauração Pernambucana, João Fernandes Vieira adquire o engenho em leilão público, mas no mesmo ano o revendeu a Pedro Monteiro de Queiroz (nada foi encontrado)
Hoje não mais existe vestígio do engenho e suas terras estão localizadas na área urbana do bairro Cruz de Rebouças/Igarassu-PE.

Fontes:
Arch. de Haya. Publicado na Revista do Instituto Archeológico e Geográfico Pernambucano. Dezembro de 1887 – Nº 34 - Recife - Typographia Universal, 1887 – Pág. 141 a 196L
BORGES DA FONSECA, Antônio José Victoriano. Nobiliarquia Pernambucana. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro Anais 1962 Vol 82 (12), pag 23
BREVE DISCURSO - Sobre o estado das quatro capitanias conquistadas de Pernambuco, Itamaracá, Paraíba e Rio Grande situadas na parte setentrional do Brasil.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Arraial_Velho_do_Bom_Jesus
MELLO, Evaldo Cabral de. O Bagaço de Cana: os engenhos de açúcar do Brasil holandês. Edt. Penguim & Companhia das Letras.1ª edição. São Paulo, 2012
______________________  O Brasil Holandês. Edt. Companhia das Letras 2010 – pág 512.
Mello Moraes, Basto (Marquez de.),Ignacio Accioli de Serqueira e Silva. Typ. de M. Barreto, 1855 - pág 164. Memorias diárias da guerra do Brasil por espaço de nove annos: começando em 1630 deduzidas das que escreveu o Marquez de Basto, conde e senhor de Pernambuco.  Por Alexandre José
PEREIRA, Levy. "Engenho de roda d'água". In: BiblioAtlas - Biblioteca de Referências do Atlas Digital da América Lusa. Disponível em: http://lhs.unb.br/biblioatlas/Engenho_de_roda_d%27%C3%A1gua. Data de acesso: 15 de junho de 2014.
                                                 


PROPRIETÁRIOS:




1540 -Vasco Fernandes de Lucena (de Azevedo) – Cristão-velho. Nascido em Portugal e falecido no séc. XVI/Pernambuco. Filho de Sebastião de Lucena e de D. D. Maria de Vilhena. Neto materno e Diogo de Azevedo (senhor donatário da vila de São João de Rei/Braga. Chamado vulgarmente fidalgo da Tapada). Primeiro Alcaide-mor de Pernambuco. Cavaleiro da Ordem de Cristo. Feitor e Almoxarife de Fazenda Real em Pernambuco. Versado na língua brasílica.
Pereira da Costa descreve Vasco de Lucena como de origem fidalga e um dos mais conceituados colonos pernambucanos, que chegara com o 1º Donatário Duarte Coelho Pereira (09/03/1535), com o despacho de Feitor e Almoxarife da Fazenda Real em Pernambuco, trazendo sua mulher D. Brites Dias Correia.
Como Alcaide-mor de Olinda o Donatário escreveu uma carta dirigida ao Rei, em 22/03/1548, dizendo que Vasco de Lucena era "um funcionário cumpridor dos seus deveres, homem de bem e de boa consciência, tendo sempre dado boa conta de si".
Segundo Vicente do Salvador, Vasco Fernandes de Lucena se afeiçoara a filha de um principal dos índios, com quem tivera filhos. Vasco Fernandes era tão bem temido e estimado entre os gentios, que o principal se tinha se sentia honrado em tê-lo por genro, pois o consideravam um grande feiticeiro.
Ainda sobre Vasco Fernandes de Lucena encontramos honrosa menção nas cartas de brasão de armas conferidas a dois de seus descendentes, a primeira a 06/05/1790, a Teodoro Correia de Azevedo Coutinho, e a segunda em 20/09/1800 em favor de Manuel Correia de Faria, ambos do Estado do Maranhão. Na primeira das referidas cartas se lê o seguinte: "Vasco Fernandes de Azevedo Lucena, fidalgo da casa real, foi um dos primeiros descobridores e povoadores de Pernambuco, que pelos grandes serviços que fêz naquele Estado para estender a sua povoação, que tôda se deveu ao seu valor e atividade, como faz memória o Padre Frei Agostinho de Santa Maria, Santuário Mariano, Tomo IX pag. 306, se lhe fêz mercê da alcaidaria-mor de Pernambuco”.
CURIOSIDADES: Em torno dele foi criado um mito: no momento da disputa pela preferência, quando os índios cercaram os colonos, Lucena teria discursado para a tribo, pedindo a adesão a Portugal e ameaçando os que preferiam os franceses com a morte, caso ousassem atravessar um risco que traçou no chão com a espada. Cinco teriam tentado e morrido fulminados por um raio. Por causa do milagre, o risco que traçou teria sido usado como base para a construção da principal igreja de Olinda. No lugar em que Vasco de Lucena fez o dito risco foi erguida depois a Igreja Matriz de Olinda, hoje a Igreja da Sé.
CURIOSIDADES: No ano de 1540 foi realizada uma demarcação judicial das terras de Jaguaribe, conferidas a Vasco Fernandes de Lucena, por carta do donatário Duarte Coelho, lavrada em 24/07/1540, e procedida em virtude de despacho do Desembargador Antônio Salema, Ouvidor Geral do Brasil, então em Pernambuco no desempenho do seu cargo, a requerimento dos herdeiros das ditas terras, D. Beatriz Dias, viúva de Vasco Fernandes, de seus filhos Sebastião e Francisco Fernandes de Lucena, e D. Clara Fernandes, representada por seu marido, Cristóvão Queixada. Nessas terras existia então um engenho, sem dúvida levantado por Vasco Fernandes, uma vez que isto pretendendo, solicitou um auxílio régio, que é assim recomendado pelo donatário Duarte Coelho, em carta dirigida a d. João III, em 22/03/1548: - "por êle querer fazer um engenho em uma ribeira, e em um pedaço de terra que lhe dei, pede a V. Alteza por ajuda de o fazer, lhe faça mercê de lhe dar licença para poder mandar algum brasil de cá para isso, o que irá fazer à costa onde não faça dano nem prejuízo, certo, Senhor, que êle disso e de tôda outra mercê e merecedor e a mim, Senhor, a fará fazendo a êle, pois a mercê, e êle escreve a V.Alteza sôbre isso por um seu filho". As referidas terras, bem como outras também situadas em Jaguaribe, passaram depois ao patrimônio do mosteiro de S. Bento, de Olinda, por doação ou venda, como sejam: - 400 braças de terra em quadro, doadas a Vicente Fernandes pelo donatário Duarte Coelho de Albuquerque, por carta de 20/08/1566, e posteriormente vendidas ao mosteiro.
Senhor do engenho Aiamã de Riba/Igarassu e do Jaguaribe/Olinda (1540).
Relacionamento 01: (?) – Índia Tabajara. (c.g. desconhecida).
C01: D. Brites Dias Correa, nascida em Portugal, filha de João Correa, o Português, e de D. Leonarda Ignez. Neto materno de João Correa (senhor da Torre do Ladrâo Gaiâo/Leiria). Tanto a sua família materna e paterna eram Fidalgos da Casa Real. Filhos:
01-  Francisco Fernandes de Lucena – Sucessor de seu pai no eng. Aiamã. (c.g);
02-  Sebastião Lucena de Azevedo, nascido em Portugal, Comendador de Santa Maria de Matta de Lobos e Guarda-mor de Lisboa, no tempo da peste. C.c. D. Jerônima de Mesquita, filha de Thomé Borges de Mesquita e de Catharina Pinhel. (c.g);
03- Clara Fernandes de Lucena – Nascida em Portugal. C.c. Cristóvão Queixada, Cavaleiro castelhano, do casal procede os “Queixadas” da Paraíba, que em 1748 se achavam em decadência, mas neste ramo houve vários sacerdotes do Hábito de São Pedro. (c.g);
Fontes:
Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro 1902. Anais 1902 Vol 24 (1). Anais 1903 Vol 25 (1).
Archivo heraldico-genealogico contendo noticias historicoheraldicas.  Por Augusto Romano Sanches de Baena e Farinha de Almeida Sanches de Baena (Visconde de) Typographia universal de T. Q. Antunes, 1872
Borges da Fonseca, Antônio Victorino. Nobiliarquia Pernambucana. Rio de Janeiro, 1935. Anais 1925 Vol 47 (2). Anais 1926 Vol 48 (2).
Guerra, Lucia Pereira de Lucena. Da cidade de Lucena, Espanha ao Brasil. Disponível em: http://www.brasa.org/Documents/BRASA_IX/Lucia-Guerra.pdf
Lisboa, Balthazar da Silva. Annaes do Rio de Janeiro: contendo a descoberta e conquista deste ..., Vol. V. Typ. Imp. e Const. de Seignot-Plancher, 1835
MELLO, Evaldo Cabral de. O Bagaço de Cana: os engenhos de açúcar do Brasil holandês. Edt. Penguim & Companhia das Letras.1ª edição. São Paulo, 2012.
PAES BARRETO, Carlos Xavier. Primitivos Colonizadores Nordestinos. Usina de Letras. 2ª edição revista. Rio de Janeiro, 2010.
Pergunte a Pereira da Costa. Vol: 1. Ano: 1493 Pág: 404. Disponível em: http://www.liber.ufpe.br
______________________. Vol: 3. Ano: 1637. Pág: 212, 213. Disponível em: http://www.liber.ufpe.br



1593 - Francisco Fernandes de Lucena – Filho de Vasco Fernandes de Lucena e de D. Beatriz Dias.
Senhor do engenho: Aimã de Riba/Olinda (1593)
C01: (?) Filhos :
01- Maria de Lucena – C.c. Antônio da Costa Feio;
01- Beatriz de Lucena – C.c. Miguel Pires Landim (mameluco)
Fontes:
http://marcosfilgueira.wikidot.com/ascendente-pela-familia-lucena
MELLO, Evaldo Cabral de. O Bagaço de Cana: os engenhos de açúcar do Brasil holandês. Edt. Penguim & Companhia das Letras.1ª edição. São Paulo, 2012.



1602 - Estevão Gomes – Escrivão da Fazenda Real em Pernambuco. (nada mais foi encontrado)
Senhor do engenho Aiamã de Riba/Olinda
Fontes:
MELLO, Evaldo Cabral de. O Bagaço de Cana: os engenhos de açúcar do Brasil holandês. Edt. Penguim & Companhia das Letras.1ª edição. São Paulo, 2012.


          
1623 - Pero (ou Pedro) da Rocha Leitão – Comandante de uma Companhia em Igarassu. No dia 27/03/1635, André Marin (ou Marinho), o Comandante do Arraial do Forte do Porto de Nazareth, no Cabo de Santo Agostinho, mandou enforcar Pedro da Rocha Leitão e Augustinho de Holanda por terem trocado cartas com o exército holandês.
Fontes:
PEREIRA, Levy. "Engenho de roda d'água". In: BiblioAtlas - Biblioteca de Referências do Atlas Digital da América Lusa. Disponível em: http://lhs.unb.br/biblioatlas/Engenho_de_roda_d%27%C3%A1gua. Data de acesso: 15 de junho de 2014.
Revista do Instituto Archeológico e Geográphico Pernambucano, Edições 20-27. Recife, 1871



1635 - Herdeiros de Pero da Rocha Leitão – Proprietários do engenho a partir de 27/03/1635. No ano de 1645, deviam 1.750 florins à Companhia das Índias Ocidentais holandesa e em 1663 a dívida estava em torno de 4.900 florins
Fontes:
PEREIRA, Levy. "Engenho de roda d'água". In: BiblioAtlas - Biblioteca de Referências do Atlas Digital da América Lusa. Disponível em: http://lhs.unb.br/biblioatlas/Engenho_de_roda_d%27%C3%A1gua. Data de acesso: 15 de junho de 2014.



1655 - João Fernandes Vieira – Nasceu em 29/06/1596-Funchal/Ilha da Madeira/PT e faleceu em 1679. Filho do fidalgo Francisco de Ornelas Muniz com Antônia Mendes. Seu pai era bisneto de Tristão Vaz, o primeiro donatário de Machico. Sua mãe era bisneta de Pedro Vieira, morgado da Ribeira de Machico; entre os seus bisavôs se encontra António Fernandes, sesmeiro nas Covas do Faial, no norte da ilha da Madeira. Em 1606, com 10 anos de idade, Fernandes Vieira imigrou para a Capitania de Pernambuco, pois como não era o filho primogênito - herdeiro de todo o legado dos pais, se viu obrigado a emigrar para o “Além-Mar”, para adquirir fortuna, como muitos jovens portugueses da época.
Assim que chegou a Pernambuco trocou o seu nome de Francisco de Ornelas Moniz Júnior, para João Fernandes Vieira, um disfarce muito usado pela corrente emigratória para o Brasil, pois queriam esconder sua origem nobre, para poderem trabalhar escondidos em serviços braçais, uma desonra para a época. Seu primeiro trabalho foi como ajudante de mascate, em troca de comida e morada; depois foi auxiliar do mercador do comerciante Afonso Rodrigues Serrão, que ao falecer o deixou como único herdeiro do seu negócio e de algumas casas na Vila de Olinda.
Em 1630, com a invasão holandesa João Fernandes Vieira se alistou como voluntário de guerra. Em 1634, participou da resistência luso-brasileira no Forte de São Jorge.
Após 1635, Fernando Vieira tornou-se muito amigo e depois sócio do Conselheiro Político da Companhia das Índias Ocidentais, Jacob Stachouwer, de quem depois foi feitor-mor de seus engenhos: Ilhetas (Nossa Senhora de França, ou Nossa Senhora de Guadalupe)/Serinhaém, Meio/Recife, Santana/Jaboatão dos Guararapes. Nota: Em seu testamento Fernandes Vieira declarou sobre sua aproximação com Stachouwer: “Declaro que no tempo dos holandeses por remir minha vexação e viver mais seguro entre eles, tive apertada amizade com Jacob Estacour, homem principal da nação flamenga, com diferença nos costumes, e com ele fiz negócios de conformidade e por conta de ambos (...)”.
Nessa época Fernandes Vieira era descrito como um homem de aspecto melancólico, testa batida, feições pontudas, olhos grandes, mas amortecidos, e de poucas falas, exceto quando se ocupava de si, pois desconhecia a virtude da modéstia. Ativo, ambicioso e inteligente, durante a trégua estabelecida entre Portugal e a Holanda, estabeleceu ligações estreitas com os holandeses, o que lhe proporcionou ascensão econômica e social.
Com a partida de Stachouwer e de seu sócio de Nicolaes de Rideer, Vieira passou a lucrar com a administração dos engenhos e dos fundos do seu amigo e benfeitor Stachouwer. Logo se apoderou das propriedades dos dois sócios, os engenhos: Guerra/Cabo de Santo Agostinho, Ilhetas (Nossa Senhora de França ou Nossa Senhora de Guadalupe)/Serinhaém, Meio/Recife, Santana/Jaboatão dos Guararapes e Velho ou da Madre de Deus/Cabo de Santo; e assumiu  os débitos contraídos por Stachower e de Ridder na compra das propriedades à Companhia das Índias Ocidentais (débito que nunca foi pago). Logo Fernandes Vieira e se tornou um dos homens mais ricos da Capitania, proprietário de 16 engenhos e de mais de 1.000 escravos.
Fernandes Vieira foi indicado Escabino de Olinda e do Recife (07/1641 a 06/1642, sendo conduzido ao cargo de 1642/43). Escabino de Maurícia (Recife) de 07/1641 a 06/1642, sendo conduzido ao cargo de 1642/43. Contratador de dízimos de açúcar da Capitania de Pernambuco e de Itamaracá.  Representante dos luso-brasileiros da Várzea do Capibaribe na Assembleia convocada pelo Conde Maurício de Nassau para assuntos do governo (1640). Mestre de Campo do Terço de Infantaria de Pernambuco. Participou da defesa do Arraial do Bom Jesus/Recife (1635), com apenas 22 anos. Fernandes Vieira levantou em Olinda a Igreja de Nossa Senhora do Desterro, hoje conhecida por Santa Thereza, onde antigamente funcionava o Colégio das Órfãs, antes dos Órfãos.
Embora fosse um dos mais importantes senhores de engenho da Capitania, para ser incorporado à nobreza rural de Pernambuco, em razão de sua suposta cor parda, de seu “defeito mecânico” (trabalhos manuais) e de sua “falta de qualidade de origem”, teve que contrair matrimônio com uma moça pertencente a uma das famílias mais importantes da Capitania. Com o casamento Fernandes Vieira que já era colaborador e conselheiro em assuntos brasileiros do governo holandês se tornaria, também um dos homens mais importantes da Capitania, com apoio da comunidade luso-brasileira através do seu prestígio econômico e social, e de doações para igrejas, confrarias e pessoas necessitadas.
Fernandes Vieira era um dos maiores devedores da Companhia das Índias Ocidentais, com uma dívida estimada em 219.854 florins, que nunca foi paga, pois alegou no seu Testamento que os chefes holandeses "são devedores de mais de 100 mil cruzados (...) de peitas e dádivas a todos os governadores (...) grandiosos banquetes que ordinariamente lhes dava pelos trazer contentes".
Após a partida do Conde Maurício de Nassau (1644) Vieira viu a intensificação da insatisfação do povo pernambucano, influenciado pelo seu sogro e percebendo as vantagens econômica e social a serem alcançada com a expulsão dos holandeses e da Companhia das Índias Ocidentais passou para o lado dos Insurrectos pernambucanos.
Reúne-se com várias lideranças rurais nas matas do engenho Santana, onde traçam os planos para expulsar os holandeses do Brasil. Como contragolpe, lança a campanha de Restauração de Pernambuco, servindo-se da mesma táctica manhosa dos inimigos e passa a circular nos dois lados: holandeses e luso-brasileiros. Nessa mesma época os holandeses o chamam para ser Agente de Negócios da Companhia e membro do seu Conselho Supremo, ficando Vieira, conhecedor de todas as tramas e recursos.
João Fernandes Vieira escreve a D. João IV pedindo-lhe licença para resgatar as Capitanias invadidas da mão dos usurpadores, ao que o Monarca se opõe. Descobrindo os holandeses os seus intentos, atraíram-no ao Recife, mas Vieira iludiu-os e pôs-se em campo, levantando a bandeira da Insurreição Pernambucana – de fazenda em fazenda, de engenho em engenho incentivando a revolução e declarando traidores os que não seguissem a sua causa. O Conselho holandês põe a cabeça de Vieira em prêmio e em resposta Fernandes Vieira põe preço a cabeça dos membros do Conselho e se torna um dos líderes da chamada Insurreição Pernambucana e um dos heróis da Restauração de Pernambuco.
NOTA: Segundo José Antônio Gonçalves de Melo: A insurreição de 1645 foi preparada por senhores de engenho, na sua maior parte, devedores a flamengos ou judeus da cidade. Foi nitidamente um levante de elementos rurais, no qual tomaram parte, negros escravos, lavradores, pequenos proprietários de roças, contratadores de corte de pau-brasil, e outros.
Após a tomada do eng. Casa Forte, Vieira voltou com seus homens ao seu engenho São João/Recife-Várzea do Capibaribe, e de lá iniciou um sistema de estâncias militares, espécie de fortificações onde pudessem estar seguros e guardar pólvora e munições de guerra. Vieira participa da guerra contra os holandeses e, vence junto com sua tropa, a Batalha das Tabocas em Vitória de Santo Antão/PE, em 03/08/1645, e a Batalha de Casa Forte/Recife, junto aos heróis: André Vidal de Negreiros, Henrique Dias e Felipe Camarão, em 17/08/1645.
Com a Batalha dos Guararapes, sob o comando do General Barreto de Meneses, em 19/04/1648 e 19/02/1649, os holandeses são finalmente vencidos e expulsos de Pernambuco e, como recompensa pelos serviços prestados na guerra João Fernandes Vieira é recompensado pelo Rei D. João IV com os cargos: de Governador da Paraíba (1655/57), Capitão General do Reino de Angola (1658/61) e Superintendente das Fortificações de Pernambuco e das Capitanias vizinhas, até o Ceará, (1661/81).
Depois do tratado de paz entre Portugal e a Holanda (1661), Fernandes Vieira figurava em 2º lugar na lista de devedores dos brasileiros à Companhia das Índias Ocidentais, com o débito de 321.756 florins, cuja dívida nunca foi paga.
Já idoso Fernandes Vieira encomenda ao Frei Rafael de Jesus um livro sobre a sua vida, exaltando seus feitos, a exemplo do que Gaspar Barléu havia escrito sobre o conde Maurício de Nassau, surgindo assim o Castrioto lusitano, no qual o autor o compara ao príncipe guerreiro albanês Jorge Scanderberg Castrioto, que lutou intensamente contra os turcos e a Sérvia pela recuperação da Albânia, que havia sido anexada à Turquia. Vieira falece, com 85 anos de idade, em 10/01/1681-Olinda, mas só em 1886 seus restos mortais foram descobertos na capela-mor da igreja do Convento de Olinda. Em 1942, seus ossos foram trasladados para a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres dos Montes Guararapes, sendo depositados na parede da capela-mor, com uma inscrição comemorativa.
Em 1664 o valor das contribuições dos escravos alforriados (pelas suas várias modalidades) da finta paga pelos mestres, banqueiros e purgadores de açúcar, era muito alta, fazenda dessas profissões uma categoria economicamente importante, os quais às vezes se equiparavam, quando não sobrelevavam, em valor de contribuição a muitos lavradores de canaviais. Segundo documentação encontrada no Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa – Pernambuco, papéis avulsos. Cx 5 o Gov. Fernandes pagava anualmente nas suas fazendas: Jaguaribem, Maranguape, Salinas e Forno de Cal) o equivalente a 50$ (cinquenta mil réis).
Em 1664 o valor das contribuições dos escravos alforriados (pelas suas várias modalidades) da finta paga pelos mestres, banqueiros e purgadores de açúcar, era muito alta, fazenda dessas profissões uma categoria economicamente importante, os quais às vezes se equiparavam, quando não sobrelevavam, em valor de contribuição a muitos lavradores de canaviais. Segundo documentação encontrada no Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa – Pernambuco, papéis avulsos. Cx 5 o Gov. Fernandes pagava anualmente nas suas fazendas: Jaguaribem, Maranguape, Salinas e Forno de Cal) o equivalente a 50$ (cinquenta mil réis).
Senhor dos engenhos: Abiaí/Itamaracá; Guerra/Cabo de Santo Agostinho; Ilhetas/Cabo de Santo Agostinho; Jacaré/Goiana; Meio/Recife-Várzea; Molinote, ou Santa Luzia, depois Sacambu/Cabo de Santo Agostinho; Muribeca/Jaboatão dos Guararapes; Nossa Senhora de França, ou Nossa Senhora de Guadalupe/Serinhaém; Santana/Jaboatão dos Guararapes; Santo André/Jaboatão dos Guararapes; Santo Antônio/Goiana; São João (antes Nossa Senhora do Rosário)/Recife-Várzea; Tejipió/TEjipio-Recife (1655); Velho ou da Madre de Deus/Cabo de Santo Agostinho. Na Paraíba: Inhaman, Inhobim ou dos Santos Cosme e Damião, Gargaú e São Gabriel. Tibiri de Baixo e Tibiri de Cima.
C01: D. Maria César, em 1643 – Filha do madeirense e senhor de engenho Francisco Berenguer de Andrade (eng. Giquiá/Recife), pessoa de boa estirpe perante o clã dos Albuquerque e de Joana de Albuquerque. (s.g.)
Filhos fora do casamento:
01- Manuel Fernandes Vieira – Sacerdote do hábito de São Pedro com ações de algumas Mercês de seu Pai. Vigário de Itamaracá. Perfilhado nos livros de Sua Magestade. Comendador de Santa Eugénia Alla, que vagou por falecimento de seu Pai João Francisco. Senhor do engenho Inhaman;
02- D. Maria Joanna – Filha natural de João Fernandes Vieira e de D. Cosma Soares. C.c. Jeronymo Cesar de Mello Fidalgo da Casa Real, Cavalheiro da Ordem de Cristo e Capitão-mor de Maranguape; filho de Agostinho Cesar de Andrada (Gov. do Rio Grande do Norte) e de D. Laura de Mello;
03- D. Joaurza Fernandes Cesar – C.c. Gaspar Achioli de Vasconcellos, Fidalgo Cavaleiro da Casa Real, filho de João Baptista Achioli e de sua mulher D. Maria de Mello. Alcaide-mor da cidade da Paraíba do Norte, e senhor do eng. Santo Andre;
04- Maria de Arruda, falecida ainda criança.
Fontes:
BORGES DA FONSECA, Antônio José Victoriano. Nobiliarquia Pernambucana. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro Anais 1885-1886 Vol. 13; 1902 Vol. 24; 1925 Vol. 47; 1926 Vol. 48
CALADO, Frei Manoel. O Valeroso Lucideno e triunpho da liberdade, Edições Cultura, São Paulo, 1943, tomo I, p. 318 e tomo II, p. 12, 14
Diário de Pernambuco. Os Holandeses em Pernambuco – Uma História de 24 anos. João Fernandes Vieira. Publicado em 22.09.2003.
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SANTIAGO, Diogo Lopes, História da Guerra de Pernambuco, Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, Recife, 1984, p. 258

Um comentário:

Cássio Bezerra Lucena disse...

Excelente trabalho, parabéns!!